Gal Costa durante a década de 1970
Gal Costa durante a década de 1970

Gal Costa

Caetano Veloso chiou quando o produtor Guilherme Araújo decidiu chamá-la de Gal. Nos primeiros shows e no primeiro compacto, seu nome constava dos programas como Maria da Graça. Guilherme tinha razão: parecia nome de cantora de fado de antigamente. Em Salvador, a maioria a conhecia por Gracinha. Os íntimos a chamavam de Gau, com “u”, forma predominante na Bahia. Guilherme preferiu Gal com “l”. Dizia que a outra opção, com “u”, soava menos feminina.

Caetano não gostou: Gal era abreviatura de General. E, naquele momento, Gal Costa tornava-se homônimo do então presidente Gal. Costa e Silva. Se fosse para chamar Gal, que fosse apenas Gal, sem nenhum sobrenome. Não teve jeito. A cantora gostou da proposta e surgiu assim na capa do primeiro LP, Domingo, gravado em dupla com Caetano em 1967.

Naquela época, o ídolo de Gal era o conterrâneo João Gilberto. Havia até quem a chamasse de João Gilberto de saias. Seu timbre era sereno, macio. Estreara em disco em 1965, cantando “Sol Negro”, composição de Caetano, em duo com Maria Bethânia no primeiro LP dela. No ano seguinte, seu primeiro compacto trouxe “Sim, foi você”, de Caetano, e “Eu vim da Bahia “, de Gilberto Gil.

Do LP partilhado em 1967, nasceu seu primeiro hit, o samba-canção “Coração  Vagabundo”, muito mais para “Insensatez” do que para “Alegria, Alegria”, que Caetano defenderia no Festival Internacional da Canção daquele ano. Em 1968, registrou nada menos que quatro faixas no álbum-manifesto Tropicália: “Baby” e “Enquanto Seu Lobo Não Vem”, de Caetano, “Mamãe Coragem”, de Caetano e Torquato, e “Parque Industrial”, de Tom Zé. E antes que o ano terminasse, defendeu “Divino, Maravilhoso” no Festival da Record. Composta por Caetano e Gil, a música inspiraria a criação de um programa de TV dedicado à turma da tropicália, que, entretanto, não sobreviveria ao final do ano.

Em troca da generosa menção que recebera na letra de “Baby”, Roberto Carlos resolveu presentear Gal Costa com uma canção feita especialmente em sua homenagem. “Meu Nome é Gal” foi gravada no primeiro álbum solo da cantora, já em 1969, ao lado de “Divino, maravilhoso” e outros sucessos imediatos. A canção revelou-se intuitiva ao recuperar, sem que o Rei soubesse, a mesma argumentação feita anos antes por Caetano: Gal dispensaria sobrenomes (“Meu nome é Gal / e desejo me corresponder com um rapaz que seja o tal / (…) E se um dia eu tiver alguém com bastante amor pra me dar / Não precisa saber sobrenome / Pois é o amor que faz o homem”). A tréplica viria com a inclusão de “Sua Estupidez”, de Roberto e Erasmo, no show e no álbum A Todo Vapor, de 1971.

Na década de 1970, Gal tornou-se musa dos hippies. Com pouca roupa e muita coragem, botava uma flor no cabelo, tomava um violão e encarava o palco sozinha, de pernas abertas. Trouxe o guitarrista Lanny Gordin para lhe fazer companhia entre solos dignos de Jimi Hendrix e encarou a plateia entoando algumas canções à capela.

No disco seguinte, Índia, Gal apareceu seminua na capa, regravou a guarânia que dava nome ao álbum, ousou imitar sons de pássaros e fechou os trabalhos com a já saudosa “Desafinado”, de João Gilberto. Mulher de fases, Gal amadureceria como cantora no final da década e trocaria a onda hippie por uma aparência e um repertório mais comerciais, aproximando-se do pop e da música romântica, consolidando-se como fiel representante do que viria a ser a MPB na década seguinte.

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