Gêneros e programas famosos na TV

Os festivais da canção (1965-1972)

Pode-se dizer que o nascimento da MPB passou pelos festivais de música, promovidos por emissoras de TV, como a Record e a Globo, de 1965 a 1972. Em vez de chegar ao público pelo rádio, a música entrava na casa das pessoas pela televisão e só depois pelo disco. Os festivais acabaram se transformando em palco político. Com o surgimento da Tropicália e o uso de metáforas para protestar contra o regime, a censura passou a controlar os festivais, que eram parte importante do entretenimento durante o período. Informalmente foi criada a categoria dos “campeões verdadeiros” e os “morais”, aqueles cujas músicas viraram hinos sem ter vencido.

Conteúdo relacionado:

A era dos festivais
– Geraldo Vandré  – “Pra não dizer que não falei das flores” (ao vivo)

– 3º Festival de Música Popular Brasileira – TV Record

Foto: Chico Buarque e Tom Jobim se apresentam no Festival Internacional de Canção em 1968
Entenda a ditadura através do Festival Internacional da Canção
“É proibido proibir”, os festivais de música em plena ditadura militar
Festivais no Brasil
Era dos festivais
10 músicas de protesto durante a ditadura militar

As telenovelas – entre o melodrama e a crítica social

A telenovela diária surgiu em 1963 como uma forma de entretenimento da televisão brasileira. Mas, no início, ela pegou emprestados elementos da radionovela, e as atuações eram muito teatrais. Foi em 1968, com Beto Rockfeller na TV Tupi, que se iniciou a era “moderna” da telenovela. Foi a primeira a utilizar a realidade social como matéria inspiradora. Os personagens usavam gírias e evitavam a impostação teatral das falas.

Em 1970, a TV Globo assumiu o gênero e apostou em algumas inovações técnicas e dramáticas, com o sucesso de Irmãos Coragem, de Janete Clair, a primeira novela brasileira a ser gravada em cidade cenográfica. Elas passaram a ser vistas pelos militares como um meio para formar a opinião pública. A audiência chegava a quase 80% dos televisores.

Com o crescimento da TV como veículo de massa, os textos também passaram a ser censurados. Apesar de serem marcadas pelo melodrama, as novelas acabavam veiculando os conflitos sociais e de classe, ainda que de maneira escondida. Havia também outros formatos de teledramaturgia, mais elaborados, como os Casos Especiais, escritos por Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, importante dramaturgo comunista que trabalhou na TV Globo.

Conteúdo relacionado:

Irmãos Coragem – abertura e vinheta

Foto: Marca da novela Irmãos Coragem
Censura às novelas durante a ditadura militar
Quais novelas brasileiras foram censuradas na ditadura militar?

O jornalismo: entre a realidade e a voz oficial

O Jornal Nacional estreou em setembro de 1969, com a função de servir à chamada “integração nacional”, nome dado pelos militares ao objetivo político de criar uma rede de comunicação e transportes em nível nacional. Foi o primeiro telejornal transmitido ao vivo em rede. O tom formal e frio, com informações que interessavam diretamente ao regime, deu ao jornal o apelido de “porta-voz da ditadura”. Todos os textos e reportagens gravadas passavam pelos fiscais da censura. Nenhuma notícia considerada agressiva à ditadura ia ao ar.

João Figueiredo e Roberto Marinho

Do outro lado, o jornalismo da Band era considerado progressista para a época. A emissora, inaugurada com equipamentos modernos em 1967, investia numa grade sem comerciais e com debates políticos. Nos anos 1970, seu jornalismo se destacou, sobretudo na cobertura de eventos internacionais. A emissora também apresentou musicais com grandes nomes da MPB de esquerda, como Chico Buarque, Elis Regina e Milton Nascimento.

Outras referências importantes no jornalismo crítico foram o Globo Shell Especial, que posteriormente mudou de nome para Globo Repórter, e o jornalismo praticado pela TV Cultura. As reportagens nesses programas eram focadas nos problemas sociais e nos contrastes e desigualdades que o desenvolvimento econômico criava.

Conteúdo relacionado:

– Abertura do Jornal Nacional de 1969

Imagem do Comício das Diretas Já na Praça da Sé em São Paulo
O Globo: Apoio editorial ao golpe de 1964 foi um erro
Índices foram manipulados na ditadura
Globo admite erro sobre a ditadura. E o resto?
Confira a história do Jornal Nacional
Telejornalismo e formação de consenso
Globo Shell Especial

Memória Globo – Globo Shell Especial
Globo Repórter: o discurso social escamoteado na ditadura e cerceado na democracia (PDF)

Propaganda do regime militar

Os anúncios e slogans da ditadura militar eram propagados pela televisão. A dupla Dom & Ravel, criou a música “Eu Te Amo, Meu Brasil” e era comum tocarem hinos ufanistas, como “Este é um país que vai pra frente” do grupo Os Incríveis. Slogans como “Brasil: Ame-o ou deixe-o!”, “Brasil: Ame-o”, e “Quem não vive para servir ao Brasil, não serve para viver no Brasil”, eram propagados através de objetos e em adesivos nas janelas dos automóveis. Ao vencer o tricampeonato mundial de futebol, em junho 1970, no México, o Brasil assistiu a uma das maiores campanhas publicitárias de massa de sua história. No tricampeonato brasileiro, surgiu o hino “Pra Frente Brasil”, de autoria de Miguel Gustavo, usado até hoje.

Conteúdo relacionado:

– Propaganda da ditadura militar na Rede Globo

https://www.youtube.com/watch?v=sN7PfKz7MLA

– Propaganda da ditadura militar na Rede Globo (1975)

https://www.youtube.com/watch?v=sN7PfKz7MLA

Imagem: General Médici segura a taça da Copa do Mundo
A censura e o advento da TV
A propaganda da ditadura militar

A semana do presidente

A concessão da TVS foi dada a Silvio Santos durante o governo Figueiredo. Logo depois, o apresentador criou um programa para divulgar os feitos do governo. O miniprograma A Semana do Presidente foi transmitido por mais de vinte anos, mostrando os eventos aos quais o presidente havia comparecido nos dias precedentes. Era uma espécie de boletim de divulgação dos atos do governo, custeado pelo Estado. No regime militar, foi usado como mais um recurso para estimular o ufanismo e aumentar a popularidade do governo.

Conteúdo relacionado:

Semana do Presidente

– Logomarca do programa Semana do Presidente

Os programas populares de auditório: Chacrinha, Silvio Santos e Flávio Cavalcanti

Esses programas, que a princípio eram regionais, tiveram um crescimento durante o regime militar e passaram a ser retransmitidos em rede nacional. Os apresentadores ocupavam um papel importante no entretenimento televisivo. Para se ter uma ideia dessa abrangência, o programa Silvio Santos, por exemplo, chegou a ter oito horas de duração, em 1968, e pico de 40,4% de audiência, em 1969, equiparando-se à transmissão da chegada do homem à Lua, que teve 41,4%. Os apresentadores eram vigiados de perto pelos censores e raramente temas políticos entravam em cena.

Conteúdo relacionado:

Discoteca do Chacrinha

Show de Calouros

Flávio Cavalcanti

Cassino do Chacrinha

Imagem – O apresentador Silvio Santos com o então presidente João Figueiredo na assinatura da concessão da TVS
Imagem: O apresentador Flávio Cavalcanti em ação
Imagem: Chacrinha em seu programa
25 anos sem Flávio Cavalcanti
Chacrinha: o eterno velho guerreiro
Vai para o trono ou não vai?
Livro analisa doutrina política de Flávio Cavalcanti

TV Pirata

Entre 1989 e 1990, a transmissão do Jornal Nacional na TV Globo foi invadida diversas vezes pela transmissão de um grupo de resistência de esquerda, cujos nomes ainda estão em segredo até hoje. A chamada “TV Pirata” protestava contra o poder da empresa de Roberto Marinho. Eram mostradas imagens do empresário, e no off, uma voz falava sobre resistência. Em um dos programas, eles ensinavam os procedimentos para montar uma rádio livre. As ações tinham 15 minutos, o tempo necessário para o sinal não ser rastreado.

Amaral Netto, o repórter

Deputado por oito vezes, Amaral Netto foi apresentador de um programa na TV Globo que exaltava o regime militar. O programa de documentários apresentava em tom ufanista grandes obras, como a hidrelétrica de Itaipu e a rodovia Transamazônica, e ainda mostrava regiões longínquas, exaltando o folclore dos lugares. Era o programa mais oficial da ditadura que existia na TV brasileira.

Conteúdo relacionado:

– Amaral Netto, o repórter

Memória Globo – Amaral Netto, o repórter
O Globo: Amaral Neto, o Repórter (TV Globo, 1968)

Skip to content