Os últimos registros sobre Aurea no Relatório Arroyo remontam ao dia 25 de dezembro de 1973, aproximadamente a um quilômetro do acampamento onde ocorreu o “Chafurdo de Natal”. Na ocasião, ela estava acompanhada do guerrilheiro Pedro Alexandrino de Oliveira Filho quando encontrou outros companheiros e relatou ter ouvido um tiroteio e helicópteros na direção do acampamento. O grupo decidiu, então, afastar-se do local. No relatório do Centro de Informações do Exército (CIE), do Ministério do Exército consta que Aurea teria sido presa em 30 de abril de 1974iv e depoimentos de moradores da região indicam a passagem de Áurea por órgãos da repressão, sem haver, contudo, uma versão conclusiva sobre seu paradeiro. Segundo depoimento do ex-militante do PCdoB Amaro Lins, elencado pelo livro “Dossiê Ditadura”, Aurea teria sido vista com vida no 23° Batalhão de Infantaria da Selva, em Marabá (PA), no início de 1974. Amaro, que estava preso no local, relata ter ouvido um policial dizer à guerrilheira que ela iria “viajar” – o que significaria ser executada. Já uma moradora de Xambioá, mencionada pelo Relatório da CEMDP, alegou que Aurea teria sido vista, morta, na delegacia da cidade e seu que corpo teria sido enterrado no cemitério de Xambioá. O ex-guia do Exército Pedro Ribeiro Alves, também declarou tê-la visto na cidade de Xambioá, mas, em seu depoimento ao MPF, citado pelo Dossiê Ditadura, afirmou que a viu chegar viva e de helicóptero no acampamento do Exército nesta cidade. De acordo com o livro da CEMDP, o Relatório do Ministério Público Federal de 2002 concluiu que Aurea teria sido “presa, junto com Batista”, camponês que se juntou à guerrilha, “na casa de uma moradora da região, onde iam comer diariamente” e levada à base de Xambioá. Em consonância com esta versão, o “Dossiê Ditadura” menciona o depoimento do ex-guia do Exército Sinézio Martins Ribeiro ao MPF e o relato de Raimunda Pereira Gomes publicado na obra Vestígios do Araguaia. Sinézio afirmou que soube, por outros guias, que eles teriam prendido Aurea e Batista na casa de Petronilha Ferreira dos Santos, após a camponesa tê-los denunciado. Os guias teriam os conduzido à casa de Arlindo e os entregado aos militares, que os levaram a Xambioá. Sinézio alegou não ter visto Aurea com vida neste local. Neste sentido, Raimunda Gomes – filha de Petrolina – confirmou que os dois guerrilheiros iam rotineiramente à sua casa para se alimentar e que sua mãe os entregou por medo aos militares. Raimunda corroborou que Aurea e Batista teriam sido presos em sua casa. Por fim, o relatório do Ministério da Marinha, encaminhado ao ministro da Justiça Maurício Corrêa em 1993, assenta que a guerrilheira teria sido morta em 13 de junho de 1974.
Conclusão da CNV
Aurea Eliza Pereira é considerada desaparecida política por não terem sido entregues os restos mortais aos seus familiares, o que não permitiu o seu sepultamento até os dias de hoje. Conforme o exposto na Sentença da Corte Interamericana no caso Gomes Lund e outros, “o ato de desaparecimento e sua execução se iniciam com a privação da liberdade da pessoa e a subsequente falta de informação sobre seu destino, e permanece enquanto não se conheça o paradeiro da pessoa desaparecida e se determine com certeza sua identidade”, sendo que o Estado “tem o dever de investigar e, eventualmente, punir os responsáveis”. Assim, recomenda-se a continuidade das investigações sobre as circunstâncias do caso de Aurea, localização de seus restos mortais, retificação da certidão de óbito, identificação e responsabilização dos demais agentes envolvidos e responsabilização dos agentes da repressão envolvidos no caso, conforme sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos que obriga o Estado brasileiro “a investigar os fatos, julgar e, se for o caso, punir os responsáveis e de determinar o paradeiro das vítimas”.