Egle Vannucchi Leme

Egle Vannucchi Leme

Egle Vannucchi Leme se tornou uma referência na luta por memória, verdade e justiça por sua incansável busca por justiça pelo assassinato de seu filho, Alexandre Vannucchi Leme. Estudante de Geologia na Universidade de São Paulo e integrante da Ação Libertadora Nacional (ALN), Alexandre foi morto sob tortura no Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) em 17 de março de 1973, sob o comando do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra.

A peregrinação de Egle ao lado de seu esposo, José de Oliveira Leme, em busca do filho se iniciou em 20 de março de 1973, após um telefonema anônimo avisando que ele foi preso. Os oficiais não demoraram a forjar versões desencontradas para justificar sua morte: primeiro uma suposta tentativa de suicídio, depois, atropelamento após tentativa de fuga. A procura pelo corpo de Alexandre durou dez anos, quando a família finalmente conseguiu localizar seus restos mortais em uma sepultura individual no Cemitério Dom Bosco, em Perus, São Paulo. Mesmo cemitério onde posteriormente foi encontrada uma vala clandestina com mais de mil corpos.

Egle jamais poupou esforços para desmascarar a ditadura. De família tradicional católica, ela era a sexta de treze filhos, entre os quais duas freiras e um padre. Chegou a escrever uma carta ao Papa logo depois do assassinato de Alexandre, que ganhou grande repercussão. Egle nunca deixou de frequentar as missas aos domingos, mas somou também à sua rotina as participações em atos públicos nos quais denunciava a violência da ditadura que havia vitimado seu filho. Ela sempre teve disposição para falar com estudantes, políticos ou com qualquer público que a convidasse, ciente de que seu pleito não era apenas de uma família isolada, mas o de um povo.

Em seus discursos, ressaltava a formação humana e cristã do filho e reafirmava sua consciência crítica de quem não se conformava com a situação política do país. Ela participou do Comitê Brasileiro de Anistia desde sua criação, em 1978, o que a fez visitar deputados em Brasília, ao lado de outras mães, esposas e demais familiares de perseguidos, torturados e mortos. Também fez parte das articulações em torno da aprovação da Lei 9.140/95, conhecida como lei dos Mortos e Desaparecidos Políticos.

Egle faleceu aos 93 anos, em janeiro de 2019, em Sorocaba-SP, onde morou a vida toda. Sua trajetória continua a inspirar e motivar a luta por memória, verdade e justiça.

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