Cara a cara - 2 - jul. a dez. 78

Atuação Profissional

estudante

Organização

dirigente da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VARPalmares)

Filiação

Ire Schreier e Emília Brickmann Schreier

Data e Local de Nascimento

23/9/1946, cidade de São Paulo (SP)

Data e Local de Morte

22/11/1969, Rio de Janeiro (RJ)

Chael Charles Schreier

Chael Charles Schreier

A Informação no 1.039/69, da 1ª Divisão de Infantaria do I Exército da Vila Militar, datada de 24 de novembro de 1969, registra que Chael Charles Schreier e os companheiros teriam resistido à prisão por meio de disparos de arma de fogo e do lançamento de bombas de fabricação caseira.

Os militantes teriam saído feridos do confronto e recebido atendimento médico na 1ª Companhia da Polícia do Exército e, ainda de acordo com o documento, Chael Charles Schreier, por estar apresentando ferimento profundo no queixo, recebeu aplicação de antibióticos-procaína comprimido contra enjoo e soro antitetânico, além de curativos com mercúrio cromo e água oxigenada.

Sobreveio em Chael um ataque com características de parada cardíaca, passando a apresentar a boca cheia de espuma, babando, revirando os olhos, ocasião em que foi atendido pelo sargento enfermeiro da 1ª Cia PE e um sargento auxiliar de Educação Física, enquanto se providenciava a vinda de um médico. Aplicado o recurso da respiração artificial, o mesmo não produziu resultado, vindo Chael a falecer.

 

No entanto, fotos encontradas no acervo do DOPS pela cineasta Anita Leandro, que exibem Chael da cintura para cima, sem camisa e nenhum ferimento aparente, comprovam que, ao chegar às dependências daquele órgão da repressão, o militante encontrava-se ileso, o que desmente a versão oficial sobre a morte de Chael. Ademais, em depoimento à CNV, prestado no dia 25 de julho de 2014, o sargento Euler Moreira de Moraes, responsável pela prisão de Chael, alega que capturou o militante sem efetuar nenhum disparo, e que o entregou à prisão ileso: “Eu levava um megafone. Eu ou outro qualquer, e dizia ‘a casa está cercada, vamos sair sem que haja violência’. Falei isso várias vezes e alguns disparos foram efetuados de lá para cá. Então, não houve alternativa. Tem janela aberta e nós vamos jogar granada de gás lacrimogênio por intermédio do nosso aparelho. Aquilo contaminou o ambiente e ficou insuportável. Saiu o Charles e se entregou. Saiu com a mão na cabeça. ‘Não me mate, não me mate’. ‘Eu não vou lhe matar, convença os demais a saírem’. Ele convenceu. E todos saíram e eu cheguei e entreguei todos os presos sem nenhuma lesão.”

A família foi informada da morte de Chael somente no dia 25 de novembro. Como informa o “Dossiê Ditadura”, seu corpo foi entregue aos familiares em caixão lacrado e o traslado para São Paulo foi realizado sob vigilância de agentes do II Exército, que proibiram a realização do ritual judaico de sepultamento, a fim de se evitar que o caixão fosse aberto e que os ferimentos de Chael fossem constatados.

Em 24 de janeiro de 2014, Antônio Espinosa relatou em depoimento à CNV que o corpo de Chael chegou a ser levado a uma sinagoga em São Paulo e que, nesse local, apesar da vigilância dos agentes de segurança, dois jornalistas da revista Veja, Bernardo Kucinski e Raimundo Pereira, além de uma junta médica, puderam constatar os ferimentos que denunciavam a tortura de Chael.

O Dossiê Ditadura atesta que o militante foi visto pela última vez pelos companheiros da VAR-Palmares “com o pênis dilacerado e o corpo ensopado do sangue que vertia de vários ferimentos, entre eles um profundo corte na cabeça”.

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