Ana Maria do Carmo Silva, mais conhecida por Ana Dias, foi uma das principais lideranças dos movimentos de moradores da Zona Sul da cidade de São Paulo nos anos 1960, entre os quais os Clubes de Mães, as Comunidades Eclesiais de Base e o Movimento contra a Carestia. Seu companheiro, Santo Dias da Silva, foi morto pela Polícia Militar enquanto distribuía panfletos em favor de uma greve em frente à fábrica de lâmpadas Sylvania, em Santo Amaro, em 30 de outubro de 1979, durante a ditadura militar.
Nascida em 23 de janeiro de 1943, Ana cresceu em Terra Roxa, interior de São Paulo, e logo cedo, aos 7 anos, passou a ajudar a família na lavoura de café na fazenda da família Camargo Correia, onde trabalhavam em regime de quase escravidão. Foi ali que Ana conheceu Santo Dias, também funcionário da propriedade. Casaram-se em 1965 e mudaram-se para São Paulo, onde Santo começou a trabalhar como operário.
No final dos anos 1970, a inflação descontrolada, a precarização das relações trabalhistas e a restrição de direitos imposta pela ditadura militar fez eclodir uma série de greves e manifestações sindicais. O casal não tardou a se engajar na luta pelos direitos dos trabalhadores. Ana participava das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) e ajudou a criar os Clubes de Mães da Zona Sul, que reivindicavam creches e lutavam contra o aumento do custo de vida, embrião do Movimento contra a Carestia, que se espalhou por todo o Brasil.
Foi a determinação de Ana que impediu que Santo Dias fosse enterrado como desconhecido e se tornasse mais um desaparecido político. À revelia dos policiais, ela entrou no camburão que o levou para o Instituto Médico Legal, onde ouviu a intenção dos agentes de “se livrar” do cadáver do marido, já nu e sem identificação. Trabalhadores e companheiros que também participavam do movimento de greve com o casal ajudaram a pressionar pela liberação do corpo, que só aconteceu no dia 4 de novembro. A missa de corpo presente, celebrada por dom Paulo Evaristo Arns, iniciou-se na Igreja da Consolação, de onde os mais de 30 mil presentes partiram em cortejo até a Catedral da Sé.
A partir dali, Ana Dias começou uma peregrinação permanente para preservar a memória do esposo e exigir justiça. Denunciava seu assassinato nos atos pela anistia política por todo o país e chegou a ser recebida pelo papa, em Roma. Em 1982, Ana conseguiu a condenação do policial Herculano Leonel pelo crime a seis anos de prisão. Um ano e meio depois, a decisão foi revertida pelo Tribunal da Justiça Militar.
Todos os anos, no aniversário da morte de Santo Dias, ao lado de um grupo formado por familiares, amigos, sindicalistas, ativistas, religiosos organizados pelo Comitê Santo Dias, Ana vai ao local onde ele foi assassinado para prestar-lhe homenagens. No chão, as palavras pintadas denunciam: “Aqui foi assassinado o operário Santo Dias da Silva no dia 30 de outubro de 1979 pela Polícia Militar”.