Em consequência das torturas a que foi submetido, Durvalino passou a apresentar distúrbios mentais e a família o internou em um hospital psiquiátrico em Goiânia (GO), de onde desapareceu com 26 anos, em 1973, mesmo ano do desaparecimento de seu pai. No requerimento formulado à CEMDP, os familiares pediram a localização de seus restos mortais para realizarem o sepultamento. As informações sobre a data e as circunstâncias do desaparecimento de Durvalino Porfírio de Souza são insuficientes. Não foram encontrados registros sobre Durvalino nos documentos produzidos pelos órgãos de informação e repressão estatais. Há, porém, muitos documentos e depoimentos que demonstram o monitoramento e a busca de José Porfírio pelos órgãos de segurança, perseguição que se estendia a familiares e companheiros políticos do líder camponês. José Porfírio de Souza foi preso em 1972 na fazenda Rivelião Angelical, povoado de Riachão, no Maranhão, e em seguida foi levado para Brasília, onde desapareceu em 7 de julho de 1973. Dirce Machado da Silva, ex-membro do PCB, ex-presa política na ditadura e camponesa que lutou pela posse da terra na região de Trombas-Formoso (GO), em depoimento prestado à Comissão Nacional da Verdade (CNV), durante a audiência pública sobre as atividades camponesas no interior de Goiás, realizada em 15 de março de 2013ii, em Goiânia (GO), descreveu a perseguição sofrida pelos familiares de José Porfírio, em virtude de sua liderança na luta dos trabalhadores rurais da região de Trombas e Formoso. Ao relatar o ocorrido, Dirce contou que os agentes lhe bateram e ameaçaram, dizendo: Se você não disser onde está o José Porfírio, eu mato seu marido e seu irmão. E me xingaram de vários nomes. Eu respondi: “Não digo porque não sei. E se soubesse também não diria”. Daí, eu quis morrer. Reuni todas as minhas forças e dei um tapa no soldado, que cambaleou. Então, ele me deu um ‘telefone’ e eu desmaiei. Acordei toda molhada de cachaça e vômito. Arão de Souza Gil, camponês e tio de Durvalino Porfírio de Souza, em testemunho prestado à CNV, também na audiência pública sobre as atividades camponesas na região de Trombas e Formoso, descreveu a internação de seu sobrinho em manicômio em Goiânia, em consequência das torturas sofridas por agentes estatais, em 1964. Arão de Souza Giliii afirmou que Durvalino foi preso, com 17 anos, em Trombas (GO) e levado para Balsas (MA) e “apanhou até ficar louco”. […]. Ele chegou sadio, era estudante, era novo, 17 anos. Quando chegaram com ele em Balsas, ele já estava louco”. Em virtude dos transtornos mentais que Durvalino passou a apresentar, a família o internou em um hospital psiquiátrico em Goiânia (GO): ARÃO DE SOUZA GIL: […] Ele ficou uma temporada lá e depois fugiu. Chegou lá em casa, na roça, naquele tempo eu tinha frutas na horta, aí ele pegava uma mexerica daquelas e comia com casca e tudo, louco de tudo. Aí a hora que ele melhorava um pouco, ele me contava assim: “Tio, você sabe como eles tratam gente no hospício? Eles dão choque e derrubam a gente”. Aí, fomos obrigados a trazer ele e colocar no Adauto Botelho, foi a última vez. MAIARA DOURADO: Esse Adauto Botelho é o que? ARÃO DE SOUZA GIL: Um hospício de Goiâniaiv . A Comissão Nacional da Verdade entrou em contato e encaminhou ofícios para a Secretaria de Saúde de Goiânia, para tentar identificar algum registro de entrada de Durvalino nas unidades de saúde da cidade, mas não obteve sucesso nas buscas, tendo em vista o estado de conservação dos arquivos e o período de guarda dos documentos. O hospital Adauto Botelho foi inaugurado no ano de 1954, em Goiânia, e desativado em 1995. A instituição também teria sido o destino de outros presos políticos, e teria tido o papel de legitimar o estado de “loucura” atribuído arbitrariamente a alguns pacientes naquele momento. Depois de contatos realizados pela CNV, a Ouvidoria do hospital Adauto Botelho e a Secretaria de Saúde informaram que a documentação sobre um paciente é arquivada por até 20 anos após o último registro no prontuário. Também foi informaram que o hospital Wassily Chuc era a porta de entrada para o hospital Adauto Botelho. Daí a possibilidade de Durvalino ter passado pelo hospital Wassily Chuc antes de ter sido encaminhado ao hospital Adauto Botelho, de onde desapareceu em 1973, no mesmo ano de desaparecimento do seu pai.
Diante das investigações realizadas, conclui-se que Durvalino Porfírio de Souza desapareceu em 1973, em circunstâncias ainda não esclarecidas. Recomenda-se a continuidade das investigações sobre as circunstâncias do desaparecimento de Durvalino, para a identificação dos agentes envolvidos e a localização de seus restos mortais.