Atuação Profissional

alfaiate

Organização

Partido Comunista Brasileiro (PCB)

Filiação

Cecília Pereira Vale e Hemenegildo Pereira Vale

Data e Local de Nascimento

1900 (ano provável), Feira de Santana (BA)

Data e Local de Morte

18/3/1967, Salvador (BA)

Inocêncio Pereira Alves

Inocêncio Pereira Alves

Inocêncio Pereira Alves foi preso e torturado. Morreu no dia 18 de março de 1967, em decorrência de traumas físicos e psicológicos das torturas que sofreu sob a custódia do Estado.

No dia 4 de abril de 1964, foi preso em sua casa, na rua Dr. Araújo Pinho, no 767, no Bairro Olhos D‟água, em Feira de Santana (BA), onde tinha uma pequena mercearia. A mando do Sargento Altino, um agente policial conhecido por Capelão e outros policiais invadiram sua casa e o espancaram ali mesmo, na frente dos seus filhos, para que confessasse sua vinculação com o movimento comunista. Foi levado algemado no “Jeep do Capelão” para o 1o Batalhão da Polícia Militar de Feira de Santana, onde ficou incomunicável por alguns dias.

Sua família foi constantemente ameaçada pelos policiais e pelo Sargento Altino para que fornecessem provas que incriminassem Inocêncio como subversivo. A prisão foi noticiada em jornal local, Folha do Norte, nos seguintes termos: “o primeiro comunista a ser preso, nesta cidade foi o agitador conhecido por ‘Batata’, que se encontra incomunicável”. Segundo relatos de um companheiro de Inocêncio, Estevam Martins, que também foi detido à época, Inocêncio passou pelo Quartel de Dendezeiros e depois foi transferido para o quartel dos Aflitos. Nesses lugares, foi submetido a torturas.

Estevam conta que Batata lhe confessou que havia sido violentamente espancado por soldados, cabos e sargentos, e que inclusive simularam um fuzilamento. Em carta testemunha enviada constante do processo dos familiares de Inocêncio na CEMDP, o ex-prefeito de Feira de Santana, Francisco Pinto, relata que, na época da prisão de Inocêncio, as diligências e operações militares eram comandadas pelo Capitão Edmundo, conhecido como Capelão, descendente de polonês que nutria profundo ódio pelos comunistas.

Francisco asseverou que esteve diversas vezes no Quartel de Polícia, no mês de abril. As informações sobre torturas praticadas contra Batata eram deprimentes. Nos intervalos das sessões de torturas, era colocado de joelhos, sem poder se deitar durante a noite, sob pena de recomeçar as violências. Após ser liberado (não foi possível precisar a data de sua libertação), Inocêncio apresentava saúde bastante debilitada em decorrência de traumas psicológicos e físicos decorrentes das torturas que sofreu na prisão.

Foi internado como indigente no Albergue Santo Antônio, em Salvador. Contudo, apesar dos cuidados recebidos, não resistiu e faleceu. O relato de Luiz Raimundo, companheiro de militância, encaminhado à Comissão Especial de Presos Políticos da Câmara dos Deputados, também contribui para confirmar a prisão e tortura da vítima, no qual afirma que o “‘Batata’ passou nada mais que dois anos e três meses preso o que valeu por cem anos de prisão, pela forma brutal como foi tratado […], ficou internado no Hospital Santo Antonio por um período de quase cinco meses […], era assistido por médico na cidade como o Dr. Jackson do Amauri […]”.

A certidão de óbito de Inocêncio Alves, datada de 29 de janeiro de 1968, indica como causa de morte arteriosclerose generalizada, insuficiência aórtica, aneurisma aórtico e ventricular (direito) e pericardite. Em parecer médico encaminhado à CEMDP, o médico perito, Dr. Alfredo Boa Sorte Junior, contribuiu para a compreensão de que a morte de Inocêncio tinha relação com as torturas a que foi submetido.Segundo o médico, a morte da vítima teve como causa principal seu estado de depressão psíquica e física levando-o a debilidade, infecção e exacerbação do quadro cardíaco agravado com a idade e as condições de atendimentos em instalações precárias.

As investigações empreendidas no sentido de descobrir documentos que comprovem a prisão de Inocêncio foram infrutíferas. Em resposta à solicitação da CEMDP, os órgãos oficiais da Bahia informam que nada consta acerca de Inocêncio Pereira Alves. Inclusive não foi possível localizar fichas de internação no Hospital de Santo Antonio, porque, conforme informa ofício encaminhado pela instituição, na época, o albergue era mantido pelo trabalho de voluntários, de modo que não se notificava a entrada e saída de pacientes.

A Comissão Nacional da Verdade (CNV) também oficiou o Ministério da Defesa acerca de informações sobre Inocêncio, e obteve como resposta que não há nenhum registro sobre o epigrafado. De acordo com a certidão de óbito, Inocêncio foi enterrado no Cemitério Quinta dos Lázaros, em Salvador (BA). Entretanto, não foi possível realizar a identificação dos restos mortais.

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