Luiz Eduardo Merlino foi jornalista, líder estudantil e militante do Partido Operário Comunista (POC). Trabalhou no Jornal da Tarde e na Folha da Manhã, veículo pelo qual fez a cobertura do Congresso de Ibiúna da União Nacional dos Estudantes (UNE). Estudava História na Universidade de São Paulo (USP).
Tinha apenas 23 anos quando, em 1971, foi levado da casa de sua mãe em Santos (SP) ao DOI-Codi, na capital paulista, para prestar depoimento à Operação Bandeirante (Oban). Na ocasião, voltava de um período de estudos e contatos políticos na França, para onde havia ido com a companheira Angela Mendes de Almeida.
Na sede do DOI-Codi, Merlino sofreu intensas sessões de tortura, durante 24 horas ininterruptas. Não sobreviveu. Após cinco dias desaparecido, a família foi comunicada de que ele estava morto e, segundo a versão oficial, teria se suicidado. De acordo com agentes da ditadura, Merlino teria se jogado embaixo de um carro na rodovia BR-116, enquanto era levado ao Rio Grande do Sul, para reconhecer outros militantes. Essa narrativa constou no laudo necroscópico, assinado por Isaac Abramovitc e Abeylard Orsini, e em sua certidão de óbito, que teve como declarante o delegado do Departamento de Ordem Política e Social (Deops), Alcides Cintra Bueno.
Jornalistas amigos de Merlino foram verificar o local onde o colega teria se matado, mas nada encontraram. Não havia sequer um boletim de ocorrência do fato. A versão do suposto suicídio, no entanto, começaria a ser desmentida quando um familiar reconheceu seu corpo cheio de lesões de tortura no Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo, mantido como “sem nome”. A imprensa foi proibida de noticiar a morte. Um mês depois, no entanto, o jornal O Estado de S. Paulo publicou uma nota convidando para a realização de uma missa em homenagem a Merlino, na Catedral da Sé, em São Paulo.
Em 1979 sua mãe, Iracema Merlino, moveu uma ação declaratória contra a versão oficial, a fim de descobrir as circunstâncias reais da morte do filho. Ela viria a falecer em 1995, sem conhecer a verdade sobre o caso, que foi esclarecido oficialmente no ano seguinte.
Em 2012, Carlos Alberto Brilhante Ustra, apontado como mandante da prisão e das torturas sofridas por Merlino, foi condenado a pagar indenizações no total de R$100 mil a familiares da vítima por danos morais. Atualmente, ele recorre da decisão.