Atuação Profissional
sindicalista e estivadorOrganização
Federação Nacional dos EstivadoresFiliação
Elvira Pascoal Viana e Ranulfo VianaData e Local de Nascimento
21/4/1927, Itacoatiara (AM)Data e Local de Morte
8/4/1964, Rio de Janeiro (RJ)Antogildo Pascoal Viana morreu no dia 8 de abril de 1964, no Hospital do Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Trabalhadores e Cargas (IAPETC) – atual Hospital Federal de Bonsucesso. Segundo a versão oficial, ele teria morrido ao projetar-se da janela do 5º andar do edifício do IAPETC, localizado na Avenida Brasil, na cidade do Rio de Janeiro.
Passados mais de 50 anos da morte dessa liderança sindical, as investigações realizadas não nos autorizam a apresentar conclusão irrefutável acerca das circunstâncias da morte de Antogildo. É importante mencionar, no entanto, que a versão de suicídio para a morte de Antogildo tem sido contestada desde a publicação da obra ‘Torturas e Torturados’, de autoria de Márcio Moreira Alves, em 1966. A ocorrência, no mesmo período, de outros relatos de lideranças sindicais e políticas que supostamente haviam cometido suicídio, serviu de base para a contestação apresentada na obra. De fato, ao longo de todo o regime ditatorial, tornou-se prática comum dos agentes da ditadura simularem as execuções, que promoviam, como se suicídios fossem.
Por outro lado, há casos que apresentam fortes indícios de que o suicídio tenha sido o último recurso daqueles que foram ou seriam submetidos às circunstâncias degradantes que caracterizavam o cotidiano dos militantes aprisionados pelos órgãos da repressão. Pesquisas realizadas pela Comissão Nacional da Verdade revelaram a existência de inúmeros elementos de convicção que permitem apontar que Antogildo Pascoal foi vítima de perseguição política e cometeu suicídio em decorrência das sequelas psicológicas, oriundas da violência a que fora submetido, que o atormentaram nos últimos dias de sua vida.
A primeira evidência que merece destaque é o bilhete de suicídio, que fora escrito por Antogildo e apresentado por sua viúva no processo encaminhado à Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP). No texto, redigido na cidade do Rio de Janeiro, Antogildo solicita que seus restos mortais sejam transportados e enterrados no bairro da Colônia Oliveira Machado, em Manaus. Escrito pouco antes da morte de Antogildo, o bilhete de suicídio apresenta em seus trechos finais a razão que levou o autor ao suicídio: “Não podia suportar mais tanta doença e fraqueza mental. Sempre fui honesto para com todos e tudo, inclusive a pátria.”
Em certidão que fora expedida pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), anexada ao processo apresentado junto à CEMDP, consta a informação de que Antogildo Pascoal Viana já estava sendo vigiado pelas autoridades do Estado brasileiro. Os registros da Abin informam que em 1962, Antogildo, “na condição de presidente do Sindicato dos Estivadores de Manaus, participou da greve geral, que paralisou o porto da cidade”. Inúmeros documentos localizados no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro pelos pesquisadores da CNV indicam que, anos após a morte de Antogildo, os membros das comunidades de informação e repressão continuavam a referir-se a Antogildo como perigoso comunista e agitador social, imputando culpa a outros militantes políticos que o conheceram ou que com ele conviveram.
O corpo de Antogildo, contrariando o desejo por ele expresso no bilhete de suicídio, fora enterrado no cemitério São Francisco Xavier, no bairro do Caju, no Rio de Janeiro. Quando a família de Antogildo Pascoal procurou trasladar o corpo para Manaus, descobriu que os restos mortais haviam desaparecido da cova seis meses após o enterro. O histórico da atuação sindical de Antogildo e seu envolvimento político com temas relacionados às demandas trabalhistas constituem indício adicional para a convicção firmada sobre o caso. O suicídio foi cometido em consequência de sequelas oriundas do tratamento violento e da perseguição a que fora submetido.
Diante das investigações realizadas, conclui-se que Antogildo Pascoal Viana morreu em decorrência de ação perpetrada por agentes do Estado brasileiro, em contexto de sistemáticas violações de direitos humanos promovido pela Ditadura Militar, implantada no país a partir de abril de 1964.
Recomenda-se a continuidade das investigações sobre as circunstâncias do caso, identificação e responsabilização dos demais agentes envolvidos.
O Estado brasileiro utilizou uma série de mecanismos para amedrontar a população, sobretudo aqueles que não estivessem de acordo com as medidas ditatoriais. Conheça os reflexos do aparato repressivo e os focos de resistência na sociedade.