Atuação Profissional
jornalista, estudanteOrganização
Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares)Filiação
Alice Soares Freitas e Jayme Martins de FreitasData e Local de Nascimento
12/8/1939, Belo Horizonte (MG)Data e Local de Morte
15/2/1971, Rio de Janeiro (RJ)Carlos Alberto Soares de Freitas foi dirigente e fundador da Organização Revolucionária Marxista Política Operária (Polop) e do Comando de Libertação Nacional (Colina), em Belo Horizonte. Após o Ato Institucional Nº5 (AI-5), foi dirigente da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e fundou, em 1969, a organização de luta armada Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares). Desaparecido político, Beto, como era conhecido pelos amigos, e Breno, pelos companheiros de militância, foi preso em 15 de fevereiro de 1971, no Rio de Janeiro, e nunca mais foi visto. O Estado brasileiro nunca prestou contas sobre seu desaparecimento e seu corpo até hoje não foi encontrado.
Quatro meses após seu desaparecimento, seu irmão, Eduardo Soares de Freitas, viu um cartaz de “terroristas procurados” com uma foto do irmão com um “X” riscado por cima, numa delegacia em Itaguaí (RJ). Inês Etienne Romeu, a única sobrevivente da Casa da Morte, centro de tortura e execuções instalado por militares em Petrópolis, ouviu de seus carcereiros que Carlos Alberto havia passado por ali antes. De Ubirajara Ribeiro de Souza, o Zezão, um ex-sargento que participava das torturas na casa, ouviu a seguinte frase: “Seu amigo esteve aqui”. A frase deu título à biografia de Carlos Alberto de Freitas, publicada em 2012, de autoria da jornalista Cristina Chacel.
O último contato feito por Carlos Alberto Soares de Freitas foi no dia 15 de fevereiro de 1971, quando, de acordo declarações de Sérgio Emanuel Dias Campos, por volta das 9h, encontraram-se na rua Farme de Amoedo, nº 135, em Ipanema, onde Carlos Alberto havia alugado um pequeno apartamento.
O objetivo do encontro era combinar a permanência de Sérgio no apartamento por algum tempo, até a próxima viagem de Carlos Alberto, que ocorreria nos próximos dias. Durante o encontro, Carlos Alberto revelou a Sérgio que Antônio Joaquim de Souza Machado, por estar sem lugar para ficar, havia dormido no apartamento na noite anterior. Na ocasião, Carlos Alberto revelou que havia escondido anotações de contatos com os militantes da VAR-Palmares, em uma cômoda que ficava no quarto do apartamento que havia alugado, e então combinaram que em qualquer situação de ameaça a Carlos Alberto ou caso viesse a ser preso, Sérgio deveria destruir as anotações.
Combinaram um novo encontro naquele mesmo dia, por volta das 18 horas, em frente ao cinema Ópera, em Botafogo, para que Carlos Alberto entregasse uma cópia da chave do apartamento a Sérgio. Ao final do encontro, Carlos Alberto e Sérgio saíram juntos de ônibus. Sérgio seguiu em direção ao centro da cidade e Carlos Alberto desceu na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, quase na esquina com a Avenida Princesa Isabel. Essa foi a última vez em que Sérgio esteve com Carlos Alberto, pois, na hora combinada para o encontro em frente ao cinema Ópera, Carlos Alberto não apareceu. Minutos depois, apareceram no local Rosalina Santa Cruz e seu companheiro “Marcelo”, que informaram a Sérgio que Carlos Alberto também não havia comparecido a um encontro com eles, nas proximidades do cinema.
Diante disso, Sérgio passou a considerar a possibilidade de Carlos Alberto ter sido preso e conforme o que haviam combinado no encontro daquela manhã, foi até o apartamento de Ipanema para destruir as anotações que Carlos Alberto havia escondido. Quando Sérgio chegou ao apartamento, por volta das 22h do mesmo dia, o local estava ocupado por agentes do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) do Rio de Janeiro, que prenderam Sérgio e levaram-no para as dependências do DOI-CODI, onde foi torturado.
No DOI-CODI, os agentes torturadores passaram a chamar Sérgio pelo nome de “Emílio”, o que o levou a concluir que os torturadores haviam tido algum contato com Carlos Alberto, já que ambos haviam acabado de retornar de um congresso da VAR-Palmares em Recife, onde Sérgio havia adotado tal codinome. Além de Carlos Alberto, nenhuma das pessoas que estiveram no congresso haviam sido presas até aquele momento. Com base no testemunho prestado ao Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, em setembro de 1979, por Inês Etienne Romeu, única sobrevivente do centro clandestino de execução e tortura conhecido como Casa da Morte de Petrópolis, a Comissão Nacional da Verdade (CNV) afirma que Carlos Alberto Soares de Freitas foi o primeiro prisioneiro a morrer no local.
Segundo o depoimento de Inês Etienne, ela ouviu de seu carcereiro, “Camarão”, identificado recentemente como soldado reformado do Exército Antônio Waneir Pinheiro Lima, atualmente com 71 anos de idade, que “Breno” (codinome de Carlos Alberto Soares de Freitas) foi o primeiro “terrorista” que esteve preso na casa. O torturador “doutor Pepe”, codinome de Orlando de Souza Rangel, tenente-coronel do Centro de Informações do Exército (CIE), confirmou a Inês que ele foi o responsável pela prisão de Carlos Alberto Soares de Freitas, em fevereiro de 1971, e que seu grupo o havia executado. Ele disse que, à sua equipe, não interessava ter líderes presos e que todos os “cabeças” seriam sumariamente mortos, após interrogatório.
Na Casa da Morte, Inês ouviu do então sargento Ubirajara Ribeiro de Souza, que ele havia sido reconhecido por Carlos Alberto Soares de Freitas, pois haviam se conhecido jogando basquete em Minas Gerais. Ubirajara disse a Inês: “Seu amigo esteve aqui. Ele me reconheceu”. Segundo Ubirajara, Carlos Alberto Soares de Freitas teria permanecido preso e sendo torturado na Casa da Morte até abril de 1971, quando foi executado, naquele mesmo centro clandestino, com um tiro na cabeça.
De acordo com as pesquisas desenvolvidas pela CNV, pode-se inferir a participação do capitão José Brandt Teixeira, membro do CIE, nas investigações que culminaram nos sequestros de Carlos Alberto e Antônio Joaquim, e na prisão de Sérgio Emanuel. A operação que resultou na prisão dos três tinha como objetivo o desmantelamento de uma organização montada com o objetivo de operacionalizar a volta dos banidos políticos ao Brasil, à qual Carlos Alberto e Antônio Joaquim estavam diretamente ligados. Essa informação corrobora a suposição de que os dois desaparecidos foram levados à Casa da Morte, montada em Petrópolis, pelo CIE. Até a presente data, Carlos Alberto Soares de Freitas permanece desaparecido.
Diante das investigações realizadas, conclui-se que Carlos Alberto Soares de Freitas desapareceu após ter sido preso por forças de segurança do Estado no dia 15 de fevereiro de 1971, no Rio de Janeiro, em contexto de sistemáticas violações de direitos humanos promovidas pela ditadura militar implantada no país a partir de abril de 1964.
Recomenda-se a retificação da certidão de óbito de Carlos Alberto Soares de Freitas, assim como a continuidade das investigações sobre as circunstâncias do caso, para a localização de seus restos mortais e identificação e responsabilização dos demais agentes envolvidos.
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