Ilda Martins da Silva é ex-presa e exilada política. Filha de imigrantes espanhóis, nasceu em 30 de maio de 1931, em Lucianópolis (SP). Aos 14 anos, após a morte do pai, partiu com os irmãos para São Paulo, onde começou a trabalhar como operária-tecelã na Companhia Nitro-Química, em São Miguel Paulista. Inconformada com as injustiças sociais, não tardou a engajar-se no movimento sindical, tendo sido uma das mais combativas durante uma greve em 1959 que reivindicava aumento salarial, melhores condições de trabalho e pagamento de indenizações por insalubridade.
Seu companheiro, Virgílio Gomes da Silva, foi o primeiro desaparecido político da ditadura militar brasileira, e seu corpo até hoje nunca foi localizado. Militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), Virgílio foi morto em 29 de setembro de 1969, logo após liderar o sequestro do embaixador americano em troca da libertação de presos políticos. Ilda foi presa com três dos quatro filhos um dia depois do assassinato do marido. As crianças foram levadas para o Juizado de Menores e chegaram a ser ameaçadas com a possibilidade de adoção. Separada dos filhos, Ilda foi conduzida ao DOPS, onde permaneceu de 6 de outubro a 4 de novembro, após ter sido obrigada a acompanhar os agentes em uma inspeção pelo interior de São Paulo em busca de armamentos e de outros militantes. Durante a viagem, conseguiu despistá-los, chegando a fazer greve de fome para que a levassem de volta à capital.
No DOPS, foi torturada várias vezes. Os agentes lhe perguntavam pelo paradeiro do companheiro, morto dias antes, mesmo sabendo-a viúva. Em 4 de novembro, quando o grupo de Carlos Marighella, líder da ALN, foi desmantelado, foi levada com outras mulheres ao Presídio Tiradentes, onde ficou por oito meses, a metade dos quais completamente incomunicável. Lá, as presas políticas foram alojadas em uma torre que ficou conhecida como a Torre das Donzelas, onde Ilda conviveu com mulheres como Dulce Maia, Elza Lobo, Nair Benedicto, Guiomar Lopes, Rose Nogueira e a ex-presidenta Dilma Rousseff. Foi liberada no dia 03 de julho de 1970.
Sem conseguir arrumar trabalho e sendo vigiada constantemente, Ilda decide sair do país com os filhos. Partem de ônibus rumo à Argentina e depois ao Chile, onde permanecem por pouco mais de um ano antes de partir à Cuba, seu destino final. A família é acolhida pelo governo de Fidel Castro, recebendo ajuda financeira, formação e oportunidades de trabalho. Em 1979, com a aprovação da Lei de Anistia, a maioria dos exilados políticos retorna ao Brasil, mas Ilda prefere continuar em Cuba para que os filhos pudessem concluir seus estudos universitários.
No início dos anos 1990, enfim de volta, Ilda inicia sua luta pela localização dos restos mortais de Virgílio. Ela acompanhou de perto as escavações realizadas em 2005 pelo Ministério Público Federal no cemitério de Vila Formosa em São Paulo, onde foi provavelmente enterrado. Tantos anos depois, Ilda não desiste de exigir as respostas devidas pelo Estado brasileiro e não poupa esforços em denunciar os crimes da ditadura e suas permanências. Ainda que lhe custe voltar a essas memórias, sabe da importância de que novas gerações conheçam o que aconteceu para que saibam reagir e impedir novos avanços autoritários.