Em 1964, não havia dúvidas de que, para além dos líderes militares, o golpe – ou a “Revolução”, como chamavam seus apoiadores – possuía reconhecida liderança civil. Entre elas, destacavam-se os governadores de Minas Gerais, Magalhães Pinto; da Guanabara, Carlos Lacerda; e de São Paulo, Ademar de Barros.
A revista O Cruzeiro, uma das mais importantes da época, em edição extra do dia 10 de abril, trazia em sua capa a foto de Magalhães Pinto, a quem atribuía, em reportagem mais extensa, o título de “herói da Revolução”, além de “articulador e iniciador do movimento”. A revista também destacava o papel de Ademar de Barros e do ex-presidente Juscelino Kubitschek.
Em relação a Carlos Lacerda, afirmava: “Antes, durante e depois da crise, o Governador Lacerda esteve no centro dos acontecimentos”. Também na edição histórica da revista Manchete, o governador da Guanabara foi destaque na capa como “um dos líderes da revolução vitoriosa”.

De fato, os governadores de Minas, Guanabara e São Paulo desempenharam papel decisivo não apenas na crise política que levou ao golpe de 1964, mas também ao longo da primeira metade da década de 1960. Conspirando e articulando, conclamavam seus eleitores a reagir contra as reformas propostas pelo governo Goulart, associando-as constantemente à ameaça comunista.
Não foram os únicos, entretanto. Muitos outros políticos desempenharam papel fundamental durante o governo João Goulart, contribuindo para fomentar um ambiente de instabilidade decisivo. Nesse sentido, os próprios partidos políticos constituíram espaços importantes de articulação em apoio ao golpe. Partidos conservadores como a União Democrática Nacional (UDN) e o Partido Social Progressista (PSP) – fundado por Ademar de Barros – exerceram papel relevante no apoio à intervenção militar em 1964. Nos primeiros momentos da ditadura, a UDN congratulou-se prontamente com as Forças Armadas pela “vitória contra a ameaça da ditadura comunista”. O marechal Castelo Branco, grande liderança militar do golpe e primeiro presidente da ditadura, definia-se como um “udenista roxo”, evidenciando as aproximações entre o regime e o partido, que apoiou todas as “medidas revolucionárias” instituídas pelo primeiro Ato Institucional. Diversos políticos da UDN também ocuparam cargos importantes nos primeiros momentos da ditadura: Daniel Krieger tornou-se presidente do Senado, Bilac Pinto assumiu a Presidência da Câmara e Milton Campos foi nomeado ministro da Justiça.
Em 1965, quando o Ato Institucional nº 2 (AI-2) extinguiu os partidos existentes e criou outros dois, os políticos vinculados à Aliança Renovadora Nacional (ARENA), partido da ditadura, ocuparam espaço fundamental na defesa dos interesses do regime. A ARENA incorporou políticos da UDN, do Partido Social Democrático (PSD), do Partido Democrata Cristão (PDC) e do Partido Republicano (PR).
É importante considerar, entretanto, as dinâmicas partidárias e individuais que definiram as relações entre partidos e lideranças políticas em relação à ditadura. Nesse aspecto, o caso de Carlos Lacerda é exemplar: uma das mais importantes lideranças civis em 1964, o político não tardou a se desentender com os militares no poder. Assim, depois de um lento afastamento, Lacerda rompeu com o regime em 1966, quando iniciou as articulações para formar a Frente Ampla de oposição à ditadura, juntamente com seus antigos adversários políticos, João Goulart e Juscelino Kubitschek.