As consequências econômicas da ditadura: dívida externa, hiperinflação e a década perdida

As consequências econômicas da ditadura: dívida externa, hiperinflação e a década perdida

O último governo da ditadura brasileira foi o de João Figueiredo (1979-1985), que enfrentou um aprofundamento das restrições externas que acometiam a economia brasileira desde o primeiro choque do petróleo, em 1973. O preço do sucesso no estabelecimento de uma cadeia produtiva da “marcha forçada” de Geisel foi o aumento da dependência financeira externa, quadro agravado pelo segundo choque do petróleo (1979). Desse modo, sempre que o mercado desconfiava da capacidade exportadora e/ou da rolagem da dívida, os ajustes recessivos exigidos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) entravam na pauta econômica (HERMANN).

Além disso, outro componente do trágico quadro da economia brasileira dos anos 1980 foi a inflação crônica. A variação anual do IPCA ao final do governo Figueiredo alcançou a taxa anual de 215,26% em 1984. Já no período governado pelos civis, o indicador inflacionário anual oscilou entre 242,23% em 1985 e o pico de 2.477%, atingido em 1993 (IPEA, 2025).

A herança econômica dos militares, composta pela dívida externa e pela inflação, impunha dificuldades ao processo de redemocratização brasileira. A gravidade da situação pode ser conferida pelo fato de que, entre 1986 e 1994, o Brasil teve quatro moedas diferentes, que expressavam os famosos “planos de estabilização” implementados já nos governos civis de José Sarney (1985-1990) e Fernando Collor (1990-1992), e que não funcionaram.

Os resultados desses planos acabavam por limitar o crescimento da economia brasileira a “voos de galinha” – expressão utilizada para descrever a alternância entre períodos de recessão econômica e de baixo crescimento. Por exemplo, o Brasil registrou taxa negativa de crescimento do PIB: -4,39% em 1981; -3,41% em 1983; e -0,1% em 1988, muito embora tenha crescido 7,9% em 1985 e 1986 (STREICH).

Os problemas inflacionários da “década perdida”, como ficaram conhecidos os anos 1980 na história econômica brasileira, seriam resolvidos apenas com o Plano Real, em 1994, que preconizava medidas recessivas, liberalizações e privatizações. Dessa forma, o custo da solução para o problema monetário herdado dos militares foi o sacrifício do crescimento, da indústria e da capacidade estatal de organizar a economia. E, em consonância com a modernização conservadora que moldou a economia brasileira no século XX, uma vez mais, a divisão do bolo, que agora sequer mais crescia, acabaria por ser postergada.

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STREICH, Ricardo Neves. Utopia e acomodação: o papel do Estado nas estratégias de desenvolvimento em México e Brasil (2000-2018). 2022. Tese (Doutorado em História Econômica) – FFLCH, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2022.

HERMANN, Jennifer. Auge e declínio do modelo de crescimento com endividamento: o II PND e a crise da dívida externa. In: GIAMBIAGI, Fábio et al. Economia Brasileira Contemporânea( 1945-2010). São Paulo: Elsevier, 2011, p.92.

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