As marcas da tortura no exílio de Dodora

As marcas da tortura no exílio de Dodora


Maria Auxiliadora Lara Barcelos. Arquivo resgatado pela Comissão Nacional da Verdade_Relatório da Comissão Nacional da Verdade - Volume III - p. 1845.
Maria Auxiliadora Lara Barcelos. Arquivo resgatado pela Comissão Nacional da Verdade_Relatório da Comissão Nacional da Verdade – Volume III – p. 1845.

Maria Auxiliadora Lara Barcellos, conhecida como Dodora, foi estudante de medicina, funcionária pública e ingressou na militância política em 1967, ao integrar a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Foi presa em 1969, no Rio de Janeiro, e submetida à tortura sistemática durante o período em que permaneceu encarcerada. Testemunhou o assassinato de seu companheiro de organização, Chael Schreier, e permaneceu presa até 1971. Os horrores vivenciados por Dodora a acompanharam durante todo o tempo em que viveu no exílio. Em 1971, foi deportada para o Chile, onde permaneceu até o golpe militar de 1973.

A partir de então, Dodora tornou-se uma figura em trânsito, buscando caminhos para lidar com o trauma causado pela tortura e pelo impedimento de retornar ao seu país. Chegou a solicitar, junto à Embaixada brasileira na Alemanha, permissão para voltar ao Brasil. Contudo, não foi atendida. Conviveu, então, com os efeitos devastadores da tortura, com o sentimento de não pertencimento e com a ausência de perspectivas. Em 1976, Maria Auxiliadora Lara Barcellos cometeu suicídio (ROLLEMBERG).

As trajetórias apresentadas aqui têm como objetivo oferecer um recorte possível sobre os significados do exílio de brasileiras e brasileiros perseguidos pela ditadura militar entre 1964 e 1985. As experiências foram múltiplas, e os impactos e possibilidades vivenciados pelos exilados foram mediados por diversos fatores. Além das dimensões subjetivas presentes em cada trajetória, foram fundamentais as possibilidades de estabelecer redes de contato, acessar solidariedade, ingressar em atividades profissionais e manter, quando possível, as práticas políticas. Embora tais fatores não sejam determinantes por si só, os diversos graus em que se desenvolveram incidiram diretamente sobre as experiências vividas no exílio.

Mesmo diante dessas redes, o exílio deve ser compreendido como uma prática autoritária, imposta àqueles e àquelas que ousaram contestar as barbaridades promovidas pelo regime militar. E entre as possibilidades de ressignificação e continuidade das trajetórias políticas e acadêmicas — como as observadas nas experiências de Darcy Ribeiro e Paulo Freire — e o horror da impossibilidade de continuar vivendo, expressa na maneira trágica como terminou a vida de Maria Auxiliadora Lara Barcellos, existe um vasto campo a ser explorado sobre as vivências no exílio: experiências de vítimas e resistentes da ditadura militar brasileira.

ROLLEMBERG, Denise. Uma vida, duas biografias. Estudos Históricos. CPDOC/FGV, Rio de Janeiro, v.1, n. 37, 2006, p. 192.

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