Plural e diversa em origens, posições ideológicas e sociais, não se pode falar em um posicionamento unívoco da comunidade judaica diante da ditadura militar no Brasil. Pelo contrário, encontramos atuações divergentes e, por vezes, conflitantes entre indivíduos, grupos e instituições judaicas ao longo do período. Houve aqueles que apoiaram incondicionalmente o regime dos generais, bem como os que silenciaram diante do que acontecia, frequentemente por medo de que a perseguição pudesse se estender aos judeus, já tão historicamente discriminados.
Não se pode deixar de destacar, contudo, a atuação daqueles que resistiram. Essa resistência ocorreu de diversas formas — algumas mais ligadas ao mundo cultural, intelectual ou à política institucional, outras, por sua vez, mais radicais. Independentemente do caminho escolhido, alguns judeus brasileiros sofreram duras consequências por seu ativismo contra o regime militar.
Não se pode afirmar que houve uma perseguição específica à comunidade judaica durante a ditadura militar brasileira, embora existam indícios claros de que altos oficiais do governo tenham, sim, compactuado com ideias antissemitas. Ainda assim, algumas situações, como o assassinato do jornalista judeu Vladimir Herzog, em 1975, forçaram diversas personalidades, grupos e instituições judaicas a se posicionar.
Destacaremos aqui o papel de resistência às violações de direitos humanos perpetradas pelo governo brasileiro à época, sobretudo por parte de duas personalidades sobre as quais nos aprofundaremos nas próximas seções: o rabino Henry Sobel e a jornalista Trudi Landau, além, é claro, do próprio Vlado.
O conteúdo do artigo “Comunidade Judaica” foi produzido por Guilherme Lassabia de Godoy e Ernesto Mifano Honigsberg, fruto de uma parceria entre o Instituto Vladimir Herzog e o Museu Judaico de São Paulo, realizada por meio do Programa Nacional de Apoio à Cultura (PRONAC), nº 230558.