Carolina Rewaptu é uma liderança indígena que teve parte de seu povo, os A’uwe Uptabi de Marãiwatsédé, dizimado pela ditadura militar.
Ela tinha seis anos quando três aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) pousaram na aldeia em que os xavantes viviam isolados e expulsaram seu povo da área ao norte do Mato Grosso, que foi “doada” a apoiadores da ditadura. Eles foram abandonados a mais de 400km de distância, e os que ficaram na tribo foram massacrados. Segundo a Comissão Nacional da Verdade, no total, mais de oito mil indígenas de diferentes etnias foram vítimas do regime.
A luta do povo Marãiwatsédé para a retomada da terra durou 46 anos. Neste período, Carolina sobreviveu, aprendeu português, superou o medo de se expor a fim de defender seu povo e manter sua cultura. Em 1988, durante o exílio, aos 18 anos decidiu se tornar professora. Seu objetivo era que os xavantes pudessem, eles próprios, contar a verdade sobre a história de sua terra. Alguns anos depois, já mãe de quatro filhos, foi para a universidade fazer especialização em Pedagogia.
É professora para os jovens e crianças da tribo, além de fazer parte da Rede de Sementes do Xingu, atuando como liderança local do grupo “Mulheres Coletoras de Sementes”, formado em 2011. A rede promove intercâmbio entre vários povos indígenas e gera renda para as mulheres.
Carolina é hoje cacica de sua aldeia, assumindo um papel público reservado a homens também entre o povo Xavante. Retomar a terra foi a maneira que encontrou de restituir a verdade e a justiça. Desde a retomada de Marãiwatsédé, seu principal trabalho é recriar o mundo: replantar as hortas, as árvores, as matas. Tem como missão recuperar os alimentos tradicionais de seu povo, guardar a cultura xavante, cuidar do território e da saúde dos seus. A luta de Carolina foi essencial para a investigação das mortes ocorridas na expulsão de seu povo e também para a retomada das terras.