“Escândalo Lutfalla” ou corrupção no governo Geisel
No início do governo Geisel, explodiu o “escândalo Lutfalla”, que envolveu o empréstimo de dinheiro público para uma empresa em situação de falência. A empresa era de propriedade do sogro de Paulo Maluf, controvertido político paulista ligado ao regime. Maluf tinha sido nomeado prefeito de São Paulo e se orgulhava de ter feito várias obras na cidade. Ele tinha muita influência nos meios militares, sobretudo com o grupo de Costa e Silva e de Médici.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) foi contrário ao empréstimo ao grupo Lutfalla, dado o risco da operação, mas foi obrigado a fazê-lo por “ordens superiores”. Em 1977, o caso foi divulgado, em 1980, foi instalada uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigá-lo, mas o processo não andou e foi arquivado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Maluf foi eleito, indiretamente, governador de São Paulo, em 1979, e ainda foi candidato à presidência da República em 1985.
“Caso Delfin” ou Corrupção no governo Figueiredo
Já durante o governo Figueiredo, em 1983, a quebra do grupo Coroa-Brastel fez surgir denúncias de que os ministros Delfim Neto (Planejamento) e Ernani Galveas (Fazenda) teriam favorecido o grupo, desviando empréstimos concedidos pela Caixa Econômica Federal. O caso foi aberto na justiça em 1985, e julgado nove anos depois. O ex-ministro Galveas teve a denúncia rejeitada e, Delfim Neto, deputado federal à época, gozou de imunidade parlamentar e não foi a julgamento. Ao falir, o grupo deixou 34 mil investidores financeiros sem receber.
Os dois ministros, além de Mário Andreazza (ministro do Interior), também foram envolvidos no “caso Delfin”. A Delfin operava uma caderneta de poupança e atuava no crédito imobiliário, tipo de investimento popular ligado ao mercado imobiliário e às políticas oficiais de habitação. Isso levava a empresa a ter negócios, naturalmente, com o Banco Nacional de Habitação (BNH), criado pelo governo militar para viabilizar moradias populares, sob a batuta do Ministério do Interior. As relações entre a Delfin e o BNH envolveram uma negociata com terrenos superfaturados, no qual o banco quitou uma dívida da empresa, determinando um preço cerca de seis vezes superior ao do mercado para os terrenos entregues.
O montante envolvido no escândalo era de 200 milhões de dólares, em valores da época. O caso foi denunciado por funcionários do BNH à Folha de S. Paulo. Ao envolver nomes poderosos do regime, abalou o já frágil quadro político do governo Figueiredo. Mais uma vez a fórmula se repetia: diretores do BNH e funcionários técnicos de carreira eram contra a operação superfaturada e lesiva aos cofres públicos, mas tinham que obedecer a “ordens superiores”. Do ponto de vista legal, nada avançou, apesar dos processos.