Exílio em números: aproximações

Exílio em números: aproximações

Estima-se que, entre as décadas de 1960 e 1970, mais de 5 mil pessoas saíram do país motivadas pela perseguição política. Uruguai e Chile foram os principais locais escolhidos no momento em que se saía do Brasil. A possibilidade de entrar no Uruguai por terra foi um fator determinante para isso. De lá, parcelas consideráveis de militantes optavam pelo Chile, que, até 1973, foi governado por Salvador Allende e tinha um contexto bastante interessante para os exilados brasileiros, seja pela manutenção da militância política, seja pela possibilidade de encontrar trabalho (REIS; ROLLEMBERG).

Com o golpe militar de 1973 no Chile, um grande número de exilados fugiu para países europeus. Entre os principais destinos, destacam-se Portugal, França, Alemanha, Itália e Suíça. Alguns exilados também estiveram na África, em países como Argélia, Moçambique e Guiné-Bissau. As redes de solidariedade entre exilados foram o que definiu a escolha do destino. Com o tempo, essas redes foram se articulando com organismos internacionais e com os governos locais, sendo responsáveis por auxiliar na inserção dos exilados no trabalho e na militância política praticada no exterior (BADAN RIBEIRO).

A principal prática política foi a criação de revistas de exilados que articulavam os militantes, trocavam informações e, sobretudo, denunciavam os crimes praticados pela ditadura militar. Essas redes também auxiliavam na retirada de militantes perseguidos no Brasil e, eventualmente, foram responsáveis pela troca de correspondências entre os exilados e os que permaneciam no Brasil (NAPOLITANO). 

Além da opressão no âmbito individual, essa prática impactou o desenvolvimento do pensamento social brasileiro, sobretudo por incidir sobre importantes intelectuais cuja atuação no Brasil representava avanços para a cultura e a sociedade brasileira. O antropólogo Darcy Ribeiro e o educador Paulo Freire foram dois dos mais significativos personagens exilados dessa primeira geração e sintetizam como o exílio representou, por um lado, o desmonte de um projeto de Brasil e, por outro, possibilidades de ressignificações e atuações políticas no exílio.

NAPOLITANO, Marcos. No exílio, contra o isolamento: intelectuais comunistas, frentismo e questão democrática nos anos 1970 . Estudos Avançados, São Paulo, Brasil, v. 28, n. 80, p. 41–58, 2014.

BADAN RIBEIRO, Maria Claudia. Exílio político brasileiro e circulação revolucionária internacional: um olhar para a Rede Solidariedade / Brazilian Political Exile and International Revolutionary Movement: a look at the Solidarity Network. Kamchatka. Revista de análisis cultural., [S. l.], n. 8, p. 183–203, 2016.

REIS, Daniel Aarão; ROLLEMBERG, Denise. Exilados. Memórias Reveladas. Abr. 2022.

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