O Censo de 1970 informou que o país possuía 93.139.037 habitantes, sendo que metade desse montante populacional tinha entre zero e 18 anos. A trajetória de vida de uma parcela significativa de crianças e adolescentes brasileiros — especialmente daqueles que habitavam as periferias dos centros urbanos ou que migraram das zonas rurais para essas regiões — foi impactada pelos processos sociopolíticos ocorridos nesse período, em especial a ditadura instaurada pelo golpe de Estado de 1964, imposto pelos militares com apoio de civis, inaugurando um regime autoritário de direita que perdurou até 1985 no Brasil.
Neste texto, buscamos narrar parte de um processo que afetou de diferentes formas a população infantojuvenil brasileira, tendo em vista a noção de infâncias plurais. Nessa perspectiva, o segmento etário caracterizado como infância e adolescência é entendido enquanto uma construção social e cultural, cujas experiências das pessoas entre zero e 18 anos são atravessadas por questões relacionadas à classe social, relações de gênero, raça, etnicidade, geração, religião, local de moradia etc. O mesmo pode ser afirmado em relação aos discursos proferidos por autoridades, representantes de entidades públicas e privadas ou ainda por outros profissionais sobre essa população, sendo estes também de caráter histórico e sociocultural (Arend, 2020).