O marxismo italiano também influenciou o pensamento brasileiro de saúde pelas ideias do médico e político comunista Giovanni Berlinguer (1924-2015), líder do movimento de Reforma Sanitária italiana desde os anos 1960, que teve um primeiro grande desfecho com a Lei n. 833, de 23 de dezembro de 1978, criando a Istituzione del Servizio Sanitario Nazionale. Nos anos 1970-80, se publicaram no Brasil três livros. O primeiro, de 1976, foi Psiquiatria e poder, considerado pioneiro na difusão da reforma psiquiátrica liderada na Itália por Franco Basaglia, antes ainda da aprovação do Projeto de Lei que depois se tornou conhecido como a “Lei Basaglia”, que determinou a extinção dos hospitais psiquiátricos. Em 1978, o Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (Cebes) publicou Medicina e política, uma obra voltada ao desenvolvimento da consciência sanitária e da medicina social, bem como da política sanitária italiana. Em 1988, a editora Hucitec e o Cebes publicaram Reforma sanitária: Itália e Brasil, um conjunto de textos de Berlinguer sobre a institucionalização da Reforma Sanitária que foi implementada na Itália em 1978.
No campo da formação médica, outra influência marcante do pensamento marxista foi o médico e sociólogo argentino Juan César García (1932-1984) (García, 2007), que ganha notoriedade ao assumir um posto estratégico na Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) articulando tanto a introdução do ensino das ciências sociais (Nunes, 1985) de orientação marxista nos departamentos de medicina preventiva como a criação dos primeiros cursos de medicina social na América Latina: em 1973, no Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) e, em 1974, na Universidad Autónoma Metropolitana (UAM/México), unidade de Xochimilco (o curso teve início em setembro de 1975). Em 1987, o mestrado em Medicina Social da Uerj foi ampliado e passou a ser um mestrado em Saúde Coletiva; o doutorado nessa instituição data de 1991; no México, o doutorado em Saúde Coletiva data de 2003.