O exílio de Darcy Ribeiro e Paulo Freire

O exílio de Darcy Ribeiro e Paulo Freire

Darcy Ribeiro se destacou no pensamento social brasileiro por sua produção voltada às culturas dos povos originários. Na década de 1960, foi um dos principais articuladores da criação da Universidade de Brasília, cuja proposta pedagógica e política se sobressaía por representar, ao mesmo tempo, uma ampliação do acesso à universidade e um modelo de ensino superior inovador. A potência de seu trabalho acadêmico e sua militância social foram fatores que levaram o regime militar a persegui-lo já em abril de 1964, resultando em sua fuga para o exílio no Uruguai (BOMENY ; JOSIOWICZ).

Entrega do Título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Brasília para Darcy Ribeiro e mudança do nome do Campus Universitário para Campus Universitário Darcy Ribeiro, em 15 de março de 1995. Foto por José Cruz/Agência Brasil, disponível em Wikimedia Commons, sob licença CC BY 3.0 BR
Entrega do Título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Brasília para Darcy Ribeiro e mudança do nome do Campus Universitário para Campus Universitário Darcy Ribeiro, em 15 de março de 1995. Foto por José Cruz/Agência Brasil, disponível em Wikimedia Commons, sob licença CC BY 3.0 BR

Paulo Freire se destacou como educador ao implementar seu projeto de alfabetização em regiões do sertão de Pernambuco e do Rio Grande do Norte, durante as décadas de 1950 e 1960. Diante do sucesso de seu programa, voltado sobretudo para jovens e adultos, o presidente João Goulart o convidou para coordenar o Programa Nacional de Alfabetização, com o objetivo de expandir essa iniciativa para outras regiões do Brasil. O modelo desenvolvido por Freire defendia o desenvolvimento da autonomia dos educandos e partia das questões sociais e políticas enfrentadas por aqueles que participavam do projeto. Assim, a alfabetização promoveria também a emancipação dos sujeitos oprimidos e menos favorecidos. Essas características fizeram com que Freire se tornasse alvo da Operação Limpeza, promovida pelos militares. Foi preso em abril de 1964 e, diante da perseguição política, partiu para o exílio (SENE). 

Paulo Freire em 1963. Fotógrafo desconhecido. Imagem do Fundo Correio da Manhã, Arquivo Nacional BR_RJANRIO_PH_0_FOT_22487_003. Domínio público.
Paulo Freire em 1963. Fotógrafo desconhecido. Imagem do Fundo Correio da Manhã, Arquivo Nacional BR_RJANRIO_PH_0_FOT_22487_003. Domínio público.

Exemplos de como a ditadura militar foi responsável por interromper projetos de emancipação do povo brasileiro, Darcy Ribeiro e Paulo Freire também expressam, em suas trajetórias no exílio, as reinvenções e atuações possíveis nesse não-lugar.

Darcy Ribeiro permaneceu no exílio por 12 anos. Além do Uruguai, viveu também no Chile, Venezuela, Peru e México, integrando uma vasta rede de intelectuais latino-americanos. Seu trabalho foi fundamental para a transformação do pensamento social na região, sendo decisivo para a modernização dos sistemas universitários nos países em que atuou.

Paulo Freire permaneceu por cinco anos no Chile, trabalhando em órgãos nacionais e internacionais na aplicação de seus métodos de educação popular. Em seguida, lecionou na Universidade de Harvard durante o ano de 1970. A partir de então, seu método se internacionalizou: passou pela Suíça e, posteriormente, atuou na implementação de metodologias de alfabetização em países como Guiné-Bissau e Moçambique.

Ao mesmo tempo em que foram vítimas, esses dois pensadores brasileiros também atuaram de modo a potencializar seus trabalhos no contexto do exílio. E, diante dessa ressignificação, seguiram atuando, mesmo diante do caráter melancólico que o exílio produziu. Mas o exílio também deixou marcas profundas e definitivas, como foi o caso de Maria Auxiliadora Lara Barcellos.

SENE, Vinícius França de. A ditadura militar brasileira (1964-1985), na vigilância do exílio de Paulo Freire: uma construção do educador subversivo. 2025. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2025, p. 142.

BOMENY, Helena; JOSIOWICZ, Alejandra. O exílio de Darcy Ribeiro e Ángel Rama: intelectuais, cultura e política na América Latina. Interseções: Revista de Estudos Interdisciplinares, Rio de Janeiro, v. 19, n. 2, 2017, p. 325.

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