Atuação Profissional

bancário

Organização

não se aplica

Filiação

Carmen Oliveira de Alcântara e Nabor Rausch de Alcântara

Data e Local de Nascimento

5/8/1927, Teófilo Otoni (MG)

Data e Local de Morte

13/2/1970, Brasília (DF)

Abelardo Rausch Alcântara

Abelardo Rausch Alcântara

Abelardo Rausch de Alcântara tinha 42 anos de idade quando foi morto, em circunstâncias misteriosas, sob a tutela do Pelotão de Investigações Criminais (PIC), em Brasília. A versão oficial divulgada pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal sustentou que Abelardo fora convocado para prestar esclarecimentos sobre a ocorrência de um roubo na agência bancária em que trabalhava. Confrontado com provas incriminatórias, Abelardo teria quebrado um copo de vidro e utilizado os cacos para cortar os próprios pulsos durante a sessão de interrogatório. O relato oficial informa ainda que Abelardo fora imediatamente socorrido pelo serviço médico do Batalhão de Polícia do Exército. Durante o transporte para o Hospital Distrital, a ambulância que conduzia Abelardo teria se chocado violentamente contra um veículo da Secretaria de Governo do Distrito Federal, em frente ao Palácio do Buriti. Abelardo teria falecido em virtude das lesões provocadas no acidente. Após a autópsia, ainda de acordo com a versão da Secretaria de Segurança, constatou-se que Abelardo havia ingerido desinfetante, em uma tentativa de suicídio. A Secretaria não soube precisar em que momento Abelardo havia ingerido o produto, mas afirma que o sargento Antônio Vasconcellos, que acompanhara Abelardo na ambulância, testemunhou inúmeras tentativas de Abelardo de pôr termo à vida. Ainda que as circunstâncias da morte de Abelardo permaneçam imprecisas, a versão oficial não se sustenta.

Na manhã do dia 13 de fevereiro de 1970, de acordo com o depoimento de Elza Souza de Alcântara, três homens trajando terno e gravata estiveram em sua casa à procura do senhor Abelardo Rausch de Alcântara. Embora os homens tenham se identificado como servidores da Caixa Econômica, Abelardo não os reconheceu. Após expressar preocupação com a presença inusitada, decidiu acompanhar os visitantes desconhecidos, porque naquele momento corriam investigações na sede da agência em que estava alocado. Naquela noite, sem notícias do marido, Elza decidiu buscar informações. Após uma primeira tentativa frustrada na sede da agência da Caixa, conseguiu informações sobre seu marido na delegacia localizada no centro de Taguatinga. Abelardo estava supostamente prestando depoimento e em breve seria liberado. Por volta das 9 horas da manhã do dia seguinte, Elza recebeu uma nova visita em sua residência. Um indivíduo desconhecido solicitou roupas de trabalho para o senhor Abelardo que, supostamente, ainda estava prestando depoimento, mas iria para o trabalho após a entrevista. O homem recolheu as roupas solicitadas e se retirou. Após algum tempo, dona Elza recebeu Doralice Tavares em sua casa, e ela aparentava estar muito nervosa. Doralice trazia a informação de que um homem, o qual ela não conhecia, havia estado em sua casa e lhe dito que Abelardo havia falecido e estava sendo velado na capela número 01 do Cemitério da Esperança. Dona Elza deslocou-se para o cemitério e encontrou na capela de número 01 o corpo de seu marido sendo velado junto a dois outros indivíduos que ela não pode reconhecer. O corpo de Abelardo estava vestido com as mesmas roupas que Elza havia entregado horas antes ao homem desconhecido. Dona Elza afirmou que o rosto do marido estava inchado e enfaixado e, diante desse estranhamento, resolveu desabotoar a camisa que o marido trazia e percebeu que seu corpo apresentava hematomas, marcas de queimadura, feridas variadas e que o braço esquerdo aparentava estar quebrado.

Há inúmeras contradições nas versões oficiais divulgadas à época. Por exemplo, o registro do suposto acidente ocorrido em frente ao Palácio do Buriti não faz menção a Abelardo Rausch; há indicação de ferimentos provocados ao sargento Vasconcelos apenas. Além disso, documentos importantes para o esclarecimento do caso desapareceram. O Jornal do Brasil publicado em 18 de fevereiro de 1970 faz menção a um laudo, realizado por uma médica independente, que destacava sinais (como a existência de hematomas e um pulso quebrado) que não haviam sido mencionados no laudo anterior produzido pelo Instituto Médico Legal (IML). Investigações posteriores conduzidas pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), localizaram o motorista do veículo que foi atingido pela ambulância do Exército. O senhor Jati Rodrigues dos Santos afirmou que não tinha dúvidas de que a Kombi que dirigia fora atingido de propósito pela ambulância do Exército, a qual era conduzida pelo sargento Hermano Carlos dos Santos. Levado a julgamento, o senhor Jati foi absolvido da acusação de crime culposo e, além disso, o juiz declarou na sentença que o réu fora acusado pela morte de um defunto. Apesar de não reconhecer indícios de participação política de Abelardo Rausch de Alcântara, a CEMDP decidiu pelo deferimento do caso em decorrência da morte dessa vítima ter ocorrido por causas não naturais, em dependência policial ou assemelhada. O corpo de Abelardo Rausch fora enterrado no Cemitério Campo da Esperança, em Brasília (DF).

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