Analfabeto até os 25 anos de idade, e militante desde as primeiras movimentações de trabalhadores influenciados pela Revolução Russa de 1917, Gregório Bezerra teve papel de destaque em importantes momentos políticos da esquerda brasileira. Por conta de sua militância, passou, no total, 23 anos na prisão, em diversos presídios e épocas.
Operário da construção civil, foi preso pela primeira vez em 1917, quando participava de uma passeata no Recife. Libertado em 1922, apresentou-se ao Exército para prestar serviço militar. Transferido para Recife, já como sargento, em 1930 filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Em 1935, participou da fundação da Aliança Nacional Libertadora (ANL), organização de massas orientada pelo PCB. Com o fechamento da ANL pelo governo federal, a organização passou a funcionar na clandestinidade. Assim, Bezerra foi encarregado de participar da preparação de uma insurreição militar no Recife. Quando eclodiu o levante em Natal, em 23 de novembro de 1935, recebeu ordens para desencadear a luta na capital pernambucana no dia seguinte, desarticulada pelos militares locais. Preso, Bezerra foi submetido a torturas. Em 1937, foi condenado a 27 anos e meio de prisão, sendo anistiado em abril de 1945.
Com a legalização do PCB, ainda em 1945, foi o principal candidato do partido a deputado por Pernambuco à Assembleia Nacional Constituinte. Permaneceu na Câmara somente até janeiro de 1948, quando os parlamentares eleitos pelo PCB tiveram seus mandatos cassados. Uma semana depois de ter deixado a Câmara, Gregório Bezerra foi preso sob a acusação de ter incendiado um quartel em João Pessoa. Absolvido por falta de provas, ainda assim viveu na clandestinidade durante nove anos.
Foi novamente preso por ocasião do golpe militar que depôs o presidente João Goulart, em 31 de março de 1964. Ficou famosa a sua fotografia amarrado pelo pescoço, sendo arrastado pelas ruas do Recife. Em abril, teve seus direitos políticos cassados por dez anos, com base no primeiro Ato Institucional, editado naquele mês. Em 1967, foi condenado a 19 anos de prisão. Dois anos depois, foi solto em troca do embaixador americano Charles Elbrick, sequestrado por grupos de oposição armada. Ficou cerca de dez anos exilado.
Com a anistia, em 1979, voltou ao Brasil. Nas eleições de 1982, candidatou-se à Câmara dos Deputados por Pernambuco, na legenda do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), obtendo apenas a suplência. Em 1979, Gregório Bezerra publicou o livro “Memórias”, relançado em 2011, pela Boitempo Editorial. Faleceu no dia 21 de outubro de 1983, em São Paulo.
Sobre ele
História de um valente
“Valentes, conheci muito
Ferreira Gullar, poeta maranhense.
e valentões, muito mais
uns só valente no nome
uns outros só de cartaz
uns valentes pela fome
outros para comer demais
sem falar dos que são homens
só com capangas atrás.
Mas existe nesta terra
muito homem de valor
que é bravo sem matar gente
mas não teme matador
que gosta da sua gente
e que luta ao seu favor
como Gregório Bezerra
feito de ferro e de flor”