Atuação Profissional
estudanteOrganização
Partido Comunista do Brasil (PCdoB)Filiação
Euthália Resende de Souza Nazareth e Adalberto de Assis NazarethData e Local de Nascimento
11/1/1944, Cerqueira César (SP)Data e Local de Morte
28, 29 ou 30/9/1972, Castanhal do Mano Ferreira/ Região do Alvo/ São José/ Oito Barracas, Sudeste do Pará (PA)Militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), desaparecida desde 1972, na Guerrilha do Araguaia, quando tinha 28 anos, Helenira Resende se destacou na resistência à ditadura no Brasil.
Iniciou sua militância no movimento estudantil da sua cidade natal. Em São Paulo, destacou-se como líder estudantil e chegou a ser vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), em 1969.
Foi presa em maio de 1968, no momento em que convocava colegas para uma manifestação na capital paulista. Ainda naquele ano de fortes mobilizações estudantis, foi presa novamente como delegada do 30º Congresso da UNE, em Ibiúna (SP), e levada para o Presídio Tiradentes. Depois, foi transferida para o Dops, onde foi jurada de morte pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury. Helenira foi solta por força de um habeas corpus, pouco antes da promulgação do Ato Institucional Nº 5 (AI-5).
A partir daí, passou a atuar na clandestinidade, vivendo em diversos locais até ir para a região do Araguaia, no sul do Pará, para contribuir na organização da luta armada rural contra o regime. Usando o codinome “Fátima”, fez trabalho político e ajudou a preparar a Guerrilha do Araguaia.
No dia 29 de setembro de 1972, Helenira acabou sendo ferida num tiroteio e metralhada nas pernas, numa emboscada feita por fuzileiros navais. Recusou-se a entregar a localização de seus companheiros aos militares, e acabou sendo torturada e morta.
Sobre sua morte, o “Relatório Arroyo”, escrito pelo dirigente do PCdoB Ângelo Arroyo, que escapou ao cerco militar à região em 1974, assim a descreveu:
“No dia 29 de setembro, houve um choque do qual resultou a morte de Helenira Resende. Ela, juntamente com outro companheiro, estava de guarda num ponto alto da mata para permitir a passagem, sem surpresas, de grupos do destacamento. Nessa ocasião, pela estrada vinham tropas. Como estas achassem a passagem perigosa, enviaram ‘batedores’ para explorar a margem da estrada, precisamente onde se encontrava Helenira e o outro companheiro. Este, quando viu os soldados, acionou a metralhadora, que não funcionou. Ele correu e Helenira não se deu conta do que estava sucedendo. Quando viu, os soldados já estavam diante dela. Helenira atirou com uma espingarda 16. Matou um. O outro soldado deu uma rajada de metralhadora que a atingiu. Ferida, sacou o revólver e atirou no soldado, que deve ter sido atingido. Foi presa e torturada até a morte”.
O Relatório Arroyo descreve que, na data de 29 de setembro de 1972, Helenira teria encontrado tropas das Forças Armadas e atirado com uma espingarda contra os soldados. Em seguida, um dos militares teria atingido a guerrilheira com uma metralhadora, a prendido e a torturado até a morte.
O relatório registra também informações dos camponeses de que Helenira estaria enterrada em um local chamado Oito Barracas. Esta versão é ratificada pela ex-presa política Elza de Lima Monnerat, em depoimento à Justiça Militar, citado pelo relatório da CEMDP. Já o Dossiê Ditadura informa sobre depoimentos de moradores da região, levantados pelo Ministério Público Federal (MPF), em 2001, que trazem relatos diversos.
Um dos depoentes teria visto Helenira baleada na coxa e na perna sendo carregada em cima de um burro próximo à localidade de Bom Jesus e levada ao igarapé Taurizinho, na base de Oito Barracas. Dois camponeses divergem sobre Helenira ter chegado viva ou morta na base de Oito Barracas, e um deles aponta que ela teria sido removida para Belém (PA) em um helicóptero. Uma quarta testemunha concorda que seu corpo teria sido levado a Oito Barracas, mas relata que o confronto com Helenira teria se dado no Castanhal do Mano Ferreira.
A publicação Documentos do SNI: os mortos e desaparecidos na Guerrilha do Araguaia faz referência ao Comunicado nº 6 das Forças Guerrilheiras do Araguaia, que informa que ela teria sido metralhada por soldados em um lugarejo denominado São José. Os documentos militares, citados pelo Dossiê Ditadura, também trazem dados divergentes: o relatório da Manobra Araguaia, de 30 de outubro de 1972, assinado pelo comandante da 3ª Brigada de Infantaria, general Antônio Bandeira, cita que Helenira foi executada em ação de patrulhamento, em 28 de Setembro de 1972, na Região do Alvo; e o relatório da Operação Sucuri, de maio de 1974, confirma sua morte sem precisar mais informações.
Em depoimento prestado ao Ministério Público Federal (MPF) em cinco de julho de 2001, José Rufino Pinheiro, que serviu como guia para os militares na região, afirmou: que viu a Fátima, guerrilheira, baleada na coxa e perna, pois ela estava sendo carregada no lombo de um burro do Edite, que é casado com uma sobrinha do declarante, até a localidade de Bom Jesus; que segundo informações à época ela teria sido removida para Belém num helicóptero […].
Na contramão dessas versões, o relatório do Ministério da Marinha, encaminhado ao ministro da Justiça Maurício Corrêa em 1993, afirma que estaria foragida. O relatório do Centro de Informações do Exército do Ministério do Exército, de 1975, elenca Helenira em uma listagem de “subversivos” participantes da guerrilha do Araguaia, afirmando que teria sido morta em 8 de setembro de 1972, conforme informação obtida do Comitê Brasileiro de Anistia.
Por fim, o livro Dossiê Ditadura se refere aos depoimentos de Regilena Carvalho Leão de Aquino e Danilo Carneiro, em processo perante a 1ª Vara da Justiça Federal, que relatam, respectivamente, ter ouvido sobre a morte de Helenira e visto fotografia do seu corpo.
Helenira Resende de Souza Nazareth é considerada desaparecida política por não terem sido entregues os restos mortais aos seus familiares, o que não permitiu o seu sepultamento até os dias de hoje.
Conforme o exposto na Sentença da Corte Interamericana no caso Gomes Lund e outros, “o ato de desaparecimento e sua execução se iniciam com a privação da liberdade da pessoa e a subsequente falta de informação sobre seu destino, e permanece enquanto não se conheça o paradeiro da pessoa desaparecida e se determine com certeza sua identidade”, sendo que o Estado “tem o dever de investigar e, eventualmente, punir os responsáveis”.
Assim, recomenda-se a continuidade das investigações sobre as circunstâncias do caso de Helenira Resende de Souza Nazareth, localização de seus restos mortais, retificação da certidão de óbito, identificação e responsabilização dos demais agentes envolvidos, conforme sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos que obriga o Estado Brasileiro “a investigar os fatos, julgar e, se for o caso, punir os responsáveis e de determinar o paradeiro das vítimas”.
O Estado brasileiro utilizou uma série de mecanismos para amedrontar a população, sobretudo aqueles que não estivessem de acordo com as medidas ditatoriais. Conheça os reflexos do aparato repressivo e os focos de resistência na sociedade.