Atuação Profissional
professora de teatro, dramaturgaOrganização
Vanguarda Popular Revolucionária (VPR)Filiação
Pascoalina Ferreira e Isaac Ferreira CaetanoData e Local de Nascimento
17/3/1941, Bebedouro (SP)Data e Local de Morte
Desaparecimento em 12/7/1971, Rio de Janeiro (RJ)Professora, teatróloga, militante de oposição à ditadura e desaparecida política desde 1971. Heleny Telles Ferreira Guariba cursou a Faculdade de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP), foi professora universitária, trabalhou com Augusto Boal e foi diretora do Grupo de Teatro da Cidade de Santo André, em São Paulo.
Entre 1965 e 1967, estudou teatro na França e na Alemanha e, após seu retorno, deu aulas de dramaturgia no Teatro de Arena. Em 1969, começou a militar na Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) organização que atuava na luta armada contra o regime militar. Entre março de 1970 e março de 1971, esteve presa pela primeira vez. Em seu prontuário no Dops, consta: “presa pela Operação Bandeirantes por estar envolvida em subversão e terrorismo”. Durante esse ano, ficou detida no Presídio Tiradentes.
Poucos meses depois de ser solta, em julho do mesmo ano, quando se preparava para deixar o país e viver no exterior, foi presa no Rio de Janeiro junto com Paulo de Tarso Celestino e desapareceu. A ex-guerrilheira e presa política Inês Etienne Romeu, em depoimento dado ao Ministério da Justiça anos depois, afirmou que Heleny Guariba esteve presa em Petrópolis, na chamada Casa da Morte, onde foi torturada e executada. Seu corpo nunca foi encontrado e Heleny é dada como desaparecida política.
Seu nome hoje batiza um Centro Cultural em Diadema, São Paulo, e também o Teatro Studio Heleny Guariba, na Praça Franklin Roosevelt, em São Paulo.
Heleny Telles Ferreira Guariba teria sido presa por agentes do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna do Rio de Janeiro (DOI-CODI/RJ) em 12 de julho de 1971, na cidade do Rio de Janeiro (RJ).
Três meses antes, por decisão da Justiça Militar, havia sido posta em liberdade e tinha o intuito de deixar o país. Seu ex-marido, ciente de sua intenção, realizou viagem à Argentina em busca de um lugar em que ela pudesse se instalar. Ao retornar, por volta do dia 25 de julho, recebeu um telefonema que o informou sobre a prisão de Heleny. O general da Reserva e ex-sogro da vítima, Francisco Mariani Guariba, foi à Brasília e ao Comando do 1º Exército a fim de buscar informações sobre seu desaparecimento, mas não obteve confirmação da prisão.
Dentre as informações que Ulisses Guariba conseguira levantar, destaca-se a de que Heleny teria viajado ao Rio de Janeiro a fim de estabelecer contato com uma pessoa que vinha do exterior com o objetivo de alterar as estratégias de atuação dos movimentos de oposição. Tal pessoa seria Paulo de Tarso Celestino da Silva, dirigente da Ação Libertadora Nacional (ALN), que acabara de retornar de Cuba. Heleny e Paulo teriam sido presos juntos na ocasião.
Também foi-lhe informado, por uma amiga de colégio de Heleny, que ela teria sido vista entre os dias 6 e 7 de julho em frente ao Hotel Glória. No entanto, os órgãos de segurança mantiveram a versão de que ela não se encontrava presa e que possivelmente teria realizado viagem ao exterior. Na ocasião, chegaram a decretar sua prisão preventiva. Documento emitido pelo Serviço de Polícia do III Exército de Porto Alegre, em dezembro de 1975, incluía Heleny entre os foragidos procurados pela polícia judiciária militar. Segundo o documento, ela teria sido condenada pela 2ª Circunscrição Judiciária Militar (CJM) em 18 de julho de 1972, data posterior a seu desaparecimento.
Em junho de 1976, o Serviço Nacional de Informações (SNI) produziu um documento, constante do informe nº 1086 de 1983, que afirmava que Heleny servia como “pombo correio” da militância e atuava como elo entre os “mais perigosos terroristas”, cobrindo pontos estratégicos. O mesmo documento atestava que, naquela data, a militante encontrava-se foragida.
Ainda em 1976, a Federação Democrática Internacional de Mulheres encaminhou ao diretor da divisão de direitos humanos em Genebra, Suíça, um documento onde alertava sobre as violações de direitos humanos que ocorriam naquele momento no Brasil. Nessa lista, Heleny aparecia como “assassinada”.
Em setembro de 1979, Inês Etienne Romeu testemunhou que, durante o período em que esteve na Casa da Morte em Petrópolis, no mês de julho de 1971, identificou a presença no mesmo local de Walter Ribeiro Novaes, de Paulo de Tarso Celestino e de uma moça, que acreditava ser Heleny. Ali, segundo seu depoimento, Heleny teria sido torturada por três dias.
Há também indícios, segundo conclusões da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), de que Paulo de Tarso, com quem Heleny teria sido presa, havia se encontrado um mês antes com o agente infiltrado Cabo Anselmo (José Anselmo dos Santos), em São Paulo, passando a ser vigiado pelos órgãos de segurança desde então.
Pesquisas realizadas pela Comissão Nacional da Verdade (CNV) identificaram documento produzido pelo SNI no qual consta uma lista de nomes de militantes e suas possíveis datas de morte. Nela, o nome de Heleny Guariba é associado à data de 24 de julho de 1971. Segundo Inês Etienne Romeu, o dirigente da ALN, Paulo de Tarso Celestino, foi torturado por quarenta e oito horas, pelos oficiais Freddie Perdigão Pereira, Rubens Paim Sampaio (“doutor Teixeira”) e “doutor Guilherme” e pelos agentes Rubens Gomes Carneiro (o Laecato Boa-Morte), Ubirajara Ribeiro de Souza (o “Zé Gomes”) e “Camarão”.
Segundo Inês, “colocaram-no no pau de arara, deram-lhe choques elétricos, obrigaram-no a ingerir uma quantidade grande de sal. Durante muitas horas eu o ouvi suplicando por um pouco d’água.” A CNV localizou no Arquivo Nacional a informação nº 2962/71, do CIE, de 6 de dezembro de 1971, que difundiu que o delegado regional de Petrópolis estava em posse de documentos de Paulo de Tarso Celestino da Silva.
Nos termos literais do documento: “as fotografias das carteiras de identidade encontradas pertencem ao terrorista, da ALN, Paulo de Tarso Celestino”. Para justificar a posse dos documentos pela autoridade policial de Petrópolis, a informação nº 2962/71 apresenta uma versão incomum: o documento teria sido casualmente entregue ao delegado por uma prostituta, que o teria encontrado em uma lata de talco em um prostíbulo de Juiz de Fora/MG.
A data da informação, 6 de dezembro de 1971, é de pouco depois de 4 meses após o desaparecimento de Paulo de Tarso Celestino, preso por agentes do DOI do I Exército, no Rio de Janeiro, ao lado de Heleny Ferreira Telles Guariba. Na difusão dessa informação, o CIE, que admite a posse de documentos de um desaparecido político na região de Petrópolis, procura justificar-se pelo fato de que Paulo de Tarso Celestino estaria usando em seu nome documento do Ministério da Guerra, com dados verdadeiros do militar Geraldo Franco.
Diante das investigações realizadas, conclui-se que Heleny Telles Ferreira Guariba desapareceu após ter sido detida por forças de segurança do Estado no dia 12 de julho de 1971, no Rio de Janeiro, em contexto de sistemáticas violações de direitos humanos promovidas pela ditadura militar, implantada no país a partir de abril de 1964.
Recomenda-se a continuidade das investigações sobre as circunstâncias do caso para a localização e identificação dos seus restos mortais e a completa identificação dos agentes envolvidos.
O Estado brasileiro utilizou uma série de mecanismos para amedrontar a população, sobretudo aqueles que não estivessem de acordo com as medidas ditatoriais. Conheça os reflexos do aparato repressivo e os focos de resistência na sociedade.