Atuação Profissional
veterinárioOrganização
Partido Trabalhista Brasileiro (PTB)Filiação
Maria Barros de Carvalho e Antônio de CarvalhoData e Local de Nascimento
24/7/1908, São Borja (RS)Data e Local de Morte
2/4/1964, Belo Horizonte (MG)João de Carvalho Barros morreu no dia 2 de abril de 1964 em sua residência, na cidade de Belo Horizonte. Às 20h45, teriam entrado cerca de 30 homens armados em sua casa, vestidos de terno e gravata, que irromperam atirando.
João foi o primeiro a ser atingido, falecendo em seguida. Sua filha Catarina Maria Barros, de 17 anos, também foi atingida, ficando gravemente ferida na região torácica dorsal, fato que teria deixado sequelas irreversíveis na jovem. Por último, a esposa de João, Benedita Carvalho, foi atingida com um tiro de raspão no braço. Toda a família teria sido ameaçada pelos indivíduos que invadiram a casa, os quais também quebraram móveis e apreenderam objetos pessoais de João.
O grupo de homens armados deixou a residência da família em jeeps e carros “chapa branca”, como apontou a declaração da vizinha Laura dos Santos Soares e, no momento seguinte, a Polícia Civil assomou ao local, providenciando a remoção do corpo de João Carvalho para o Instituto Médico-Legal (IML), onde foi realizada a necropsia. Sua filha e esposa foram levadas para o Pronto Socorro João XXIII, onde Catarina sofreu intervenção cirúrgica.
Em decorrência de uma parada cardíaca durante a cirurgia, Catarina teve uma lesão que foi se agravando ao longo do tempo. De acordo com o registro de óbito de João, assinado pelo dr. Christobaldo Mata de Almeida, o falecimento ocorreu em consequência de “feridas pérfuro-contusas por projétil de arma de fogo”. Nos dias que se seguiram à morte, os meios de comunicação impressos publicaram diferentes versões para o ocorrido.
Na edição do Correio da Manhã de 5 de abril de 1964 consta que “elementos não identificados assassinaram, com cinco tiros, o Sr. João de Carvalho Barros, veterinário, participante de movimentos considerados esquerdistas, em sua própria casa […]. Antes de fugir, em três jipes, os assassinos depredaram a residência e raptaram um negociante, testemunha. […] A polícia acredita que se trate de crime político, em vista da posição política da vítima”. Em outra edição do Correio da Manhã, de 10 de abril de 1964, consta que as associações evangélicas de Belo Horizonte teriam enviado um telegrama ao governador Magalhães Pinto, solicitando a tomada de providências contra os responsáveis pelo assassinato do pastor protestante.
Segundo a reportagem, o telegrama apelara ao governador para que fossem “erradicados os focos de subversão responsáveis por tais atos”. Na edição do Diário da Tarde de 4 de abril de 1964, o assassinato é imputado ao negociante José Nogueira Soares, “comunista fichado, líder do núcleo proletário da região” que havia planejado o cerco junto a um grupo de fanáticos. No entanto, o suspeito nunca foi preso nem processado judicialmente.
Por sua vez, a edição do Estado de Minas de 4 de abril de 1964 aponta que José Nogueira era o proprietário do bar no qual o grupo armado bebia antes de invadir a casa de João de Carvalho. Segundo o periódico: “pelo que conseguimos apurar, os principais suspeitos da autoria do crime, são vários indivíduos que bebiam em um bar existente nas proximidades da casa do Sr. João de Carvalho, de propriedade de José Nogueira, os quais teriam invadido a casa do pastor, arrombando as portas, estilhaçando os vidros e disparando vários tiros”.
No depoimento da vizinha de João, Laura Soares, que tinha 13 anos quando assistiu de sua casa a invasão da residência da família Carvalho por vários homens que saíram de veículos oficiais, o grupo armado parecia ser formado por agentes do Estado. A incursão foi seguida por tiros – lembrando uma guerra – e gritos da família. O depoimento de Catarina Maria Barros, filha de João, aponta que na noite do dia 2 de abril de 1964, ela e seus irmãos foram acordados com os tiros de metralhadora e que quando se dirigiu à sala, encontrou seu pai morto.
Catarina ficou imóvel diante dos gritos de sua mãe, que fora atingida de raspão no braço, seus irmãos menores e sua própria ferida, produto de um tiro disparado na região abdominal de seu corpo. O relato do diretor do PTB à época sugere que o assassinato de João constituiu-se em crime político, já que Barros era filiado ao partido e às lutas sociais, participando de “movimentos patrióticos estudantis e greves dos trabalhadores por aumento de salários […]”, além de comícios políticos.
Segundo o relato, a família pediu a apuração dos fatos e recebeu como resposta do governador informações de que o “caso era complicado […] e os dispositivos policiais não tinham cobertura para uma correta apuração”. Os culpados pelo crime não foram punidos, apesar do delito ter sido classificado como “bárbaro” pelos governantes. O depoimento de Dimas da Annunciação Perrin, militante do PTB, também sugere a possibilidade de um crime político.
Dimas esclarece que João Barros era presidente do diretório daquele partido no bairro Aarão Reis, onde vivia. Segundo Dimas, a casa de João teria sido invadida por policiais à paisana, pertencentes à Polícia de Minas Gerais. Para a testemunha, o governo procurou ocultar o crime, “no que foi auxiliado pela censura que pesava sobre a imprensa”.
Diante das investigações realizadas, conclui-se que João de Carvalho Barros morreu em 2 de abril de 1964, em ação perpetrada por agentes do Estado brasileiro em contexto de sistemáticas violações de direitos humanos promovidas pela ditadura militar implantada no país a partir de abril de 1964.
Recomenda-se a retificação da certidão de óbito de João de Carvalho Barros, assim como a continuidade das investigações sobre as circunstâncias do caso para a identificação e responsabilização dos demais agentes envolvidos.
O Estado brasileiro utilizou uma série de mecanismos para amedrontar a população, sobretudo aqueles que não estivessem de acordo com as medidas ditatoriais. Conheça os reflexos do aparato repressivo e os focos de resistência na sociedade.