Atuação Profissional

bancário e comerciante

Organização

Ação Libertadora Nacional (ALN)

Filiação

Maria do Rosário Corrêa Araújo e José de Araújo

Data e Local de Nascimento

22/7/1943, Itapecerica (MG)

Data e Local de Morte

18/8/1972, em São Paulo (SP)

José Júlio de Araújo

José Júlio de Araújo
José Júlio foi abordado por policiais da Equipe C do DOI-CODI, juntamente com sua companheira Valderês Nunes Fonseca, em 18 de agosto de 1972, em um bar no bairro da Vila Mariana, em São Paulo. De acordo com a versão oficial, teria tentado resistir à voz de prisão e entrado em luta corporal, acabando ferido por uma coronhada na cabeça desferida por um dos agentes policiais. O Dossiê Ditadura: Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil (1964-1985), menciona que o documento “Aos Bispos do Brasil”, de 1973, encontrado nos arquivos do DOPS/SP narra que, após a abordagem, José Júlio de Araújo teria sido violentamente torturado por diversos agentes e, em seguida, assassinado: Foi preso no dia 18/8/1972 na rua Domingos de Morais, em São Paulo, por uma equipe de policiais comandada pelo “Dr. Ney”. Na ocasião da prisão aplicaramlhe violenta coronhada na cabeça que produziu um sério ferimento. Foi levado para o DOI, na rua Tutóia, 721, onde foi violentamente torturado pelos policiais: escrivão de polícia Gaeta, capitão do Exército Dalmo Lúcio Cyrillo, “Dr. Ney”, “Zé Bonitinho”, “Dr. Jorge” e outros. A sala de torturas, no final da tarde do dia 18, estava totalmente suja de sangue. Às 17 horas desse dia, José Júlio foi retirado do DOI e assassinado. A versão oficial publicada no Diário da Tarde, de 22 de agosto de 1972, com o título “Terrorista Volta de Cuba para Morrer em São Paulo”, tem o mesmo conteúdo do relatório dos Ministérios da Aeronáutica e da Marinha, encaminhados ao ministro da Justiça Maurício Corrêa em 1993: Por volta das 14:30 horas do dia 18 último […] foi notada, pelos policiais de serviço no local, a presença de um homem em atitude suspeita e, presumivelmente, armado. Após ter se afastado do local, o homem foi seguido pelos policias até a rua Cubatão, quando foi abordado. Ao ser interpelado reagiu, tentando sacar uma arma. […] Imediatamente foi ouvido, tendo declarado chamar-se José Júlio de Araújo […]. José Júlio de Araújo declarou ainda que, naquele mesmo dia, às 17:30 horas iria encontrar-se com um companheiro da ALN, na rua Fradique Coutinho, esquina com rua Teodoro Sampaio. Conduzido ao local na hora prevista do encontro, o terrorista lançouse sobre um policial que o escoltava, arrebatando-lhe a arma e saindo correndo pela rua Teodoro Sampaio. Os demais agentes que o escoltavam passaram a persegui-lo, ocasião em que travou-se violento tiroteio […]. A 100 metros, o terrorista foi ferido mortalmente, caindo ao solo. Ao ser levado para o hospital, foi constatado que o mesmo já estava morto, sendo, então, levado para o Instituto Médico-Legal. O laudo necroscópico, assinado pelos médicos legistas Isaac Abramovitc e José Henrique da Fonseca, alinha-se à falsa versão e atesta que José Júlio foi atingido por quatro tiros: um no lábio, um no ombro direito, outro na cabeça e um no peito. O laudo contradiz o exame de ossada realizado em 1º de outubro de 1991 pelos legistas do IML de Minas Gerais, José Frank Wiedreker Marotta e Geraldo Pianetti Filho, que afirmaram: “Com base na localização dos orifícios “E” (na região frontal direita) e “S” (na occipital à direita), infere-se que a trajetória descrita, pelo instrumento pérfurocontundente que os produziu, foi de frente para trás, ligeiramente da direita para a esquerda e ligeiramente de cima para baixo”. Os tiros disparados de frente para trás contradizem a versão oficial, que apresenta a versão de tiros desferidos em perseguição. O depoimento de Valderês, companheira de José Júlio, tomado em 16 de janeiro de 1996 para o processo da CEMDP, esclarece que ambos foram presos e interrogados em salas separadas. Conforme relato de Valderês: A equipe C do DOI-CODI que nos prendeu (recordo-me que dela participavam o capitão Átila, Oberdan e um policial civil com codinome Mangabeira […] durante todo o tempo sob o comando do major Carlos Alberto Brilhante Ustra) dividiu-se em duas, uma das quais, menor, ocupava-se de mim. Na primeira parte do meu interrogatório, meus torturadores visaram unicamente obter dados sobre José Júlio, não se importando em saber nada de minha pessoa, a não ser meu endereço. De vez em quando, abandonavam a sala onde eu estava e desciam uma escada. Ao subir, voltavam querendo mais dados sobre José Júlio, sendo que suas perguntas pareciam visar a complementar dados sobre ele. Os únicos dados que eu posso afirmar que eles possuíam sobre José Júlio é que ele havia chegado do exterior e que havia marcado um encontro na avenida Jabaquara. Este interrogatório prosseguiu desse modo ininterruptamente. Outros elementos contundentes contradizem a versão oficial de morte, pois além do casal ter sido preso junto, Valderês afirma que: […] na madrugada do dia 19 de agosto fui transferida para uma sala onde se encontravam todas as roupas com as quais José Júlio havia sido preso, algumas peças rasgadas, outras ensanguentadas e, a partir deste momento, começou meu interrogatório propriamente dito: nada mais a respeito de José Júlio me foi perguntado. José Júlio foi enterrado como indigente no cemitério Dom Bosco, em Perus, na cidade de São Paulo, em agosto de 1972. No ano de 1975 seus restos mortais foram exumados e levados para Belo Horizonte por seu irmão Márcio que, convicto da identificação do irmão, escondeu a ossada no sótão da casa onde moravam e informou aos pais que havia feito um novo enterro no cemitério da Lapa, em São Paulo. Em 1976, acometido de depressão, Márcio suicidou-se. Depois da sua morte, a mãe descobriu os ossos de José Júlio no sótão da casa e decidiu manter o segredo, já que não dispunha de documento ou outros meios que pudessem comprovar a identificação, com vistas a oficializar um sepultamento definitivo. Anos depois, a ossada foi descoberta por acaso, quando um encanador foi contratado pela família para fazer reparos no sótão da casa. Ao descobrir, denunciou o fato ao delegado Miguel Dias Campos, que indiciou a mãe e a irmã de José Júlio por ocultação de cadáver. Submetidos a exame pericial, pode-se constatar que os ossos eram mesmo de José Júlio de Araújo, o que também contribuiu para refutar a versão oficial divulgada em 1972, tendo em vista que os legistas identificaram uma perfuração no crânio decorrente de projétil de arma de fogo. O inquérito de ocultação de cadáver contra a família foi encerrado e José Júlio de Araújo foi sepultado em 6 de novembro de 1993, no cemitério Parque da Colina, com a presença de familiares, amigos, antigos companheiros de militância e representantes de movimentos de Direitos Humanos. Na CEMDP, o processo nº 032/96 teve Nilmário Miranda como relator e foi deferido por unanimidade em 8 de fevereiro de 1996. Em sua homenagem, a cidade de Belo Horizonte deu o seu nome a uma rua no bairro das Indústrias.
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