Estudante de Engenharia no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), foi expulso em 1964, em virtude de suas atividades políticas, e levado preso para a Base Aérea do Guarujá. Libertado, retomou os estudos na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), onde iniciou o curso de Filosofia. Em 1966, foi eleito presidente do Grêmio da Filosofia.
Arantes iniciou sua militância partidária no Partido Comunista Brasileiro (PCB), tornando-se, já em 1967, uma das principais lideranças da Dissidência Comunista de São Paulo (Disp). Boa parte dos integrantes dessa dissidência, a partir de 1969, se uniria ao grupo de luta armada Ação Libertadora Nacional (ALN). Em 1967, tornou-se vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE). No ano seguinte, foi preso durante a repressão ao 30º Congresso da entidade, em Ibiúna (SP).
Zé Arantes, como era conhecido, conseguiu fugir de dentro do Dops. Esteve em Cuba, onde realizou treinamento de guerrilha como militante da ALN. Lá, junto com outros companheiros, resolveu criar o Movimento de Libertação Popular (Molipo).
Em novembro de 1971, foi preso em São Paulo por agentes do DOI-Codi, junto com Aylton Adalberto Mortati. Os dois foram os primeiros militantes mortos de um grupo de 28 exilados que participaram de treinamento de guerrilha em Cuba e retornaram clandestinamente ao Brasil como integrantes do Molipo. A morte de Arantes foi divulgada apenas cinco dias depois. A família só foi informada quando ele já estava enterrado como indigente no Cemitério Dom Bosco, em Perus, com o nome falso de José Carlos Pires de Andrade.
Graças à intervenção de um delegado do Dops, Emiliano Cardoso de Mello, parente da família de Arantes, o órgão autorizou o traslado do corpo para o Cemitério Municipal de Araraquara, alguns dias depois. A falsidade da versão oficial só foi comprovada com o exame dos documentos encontrados no Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo, bem como da análise da foto do cadáver, localizada nos arquivos secretos do Dops. Na requisição da necropsia, encontra-se: “por volta das 17 horas, manteve tiroteio com membros dos órgãos de segurança, sendo nessa oportunidade ferido, e em consequência veio a falecer”. O corpo, entretanto, só chegou ao IML 24 horas depois do suposto tiroteio no qual fora morto. O laudo registra ainda que a autópsia foi realizada antes de chegar ao IML.
O relator do processo na Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos ponderou que “Arantes já fora preso na Base Aérea de Santos e em Ibiúna, em 1968. Os órgãos repressivos sabiam de suas ligações com a ALN e o Molipo e, no entanto, foi enterrado com nome falso, como indigente. A ocultação do cadáver visava, sem sombra de dúvidas, encobrir as torturas visíveis na foto e a execução com ferimentos não descritos no laudo”.
José Roberto Arantes de Almeida morreu, no dia 4 de novembro de 1971, após ser preso junto com Aylton Adalberto Mortati, por agentes do DOI-CODI de São Paulo. Os dois militantes faziam parte de um grupo de exilados políticos que havia recebido treinamento de guerrilha em Cuba e retornaram ao Brasil clandestinamente. Dos 28 militantes que retornaram, José Roberto e Aylton Adalberto foram os primeiros a serem mortos pelas forças de repressão. Após o retorno ao Brasil em 1971, José Roberto Arantes – assim como outros militantes com curso de guerrilha em Cuba – passou a ser vigiado pelo aparato repressivo do Estado. No dia 4 de novembro de 1971, Arantes foi preso em sua casa, na rua Cervantes no 7, no bairro da Vila Prudente, em São Paulo, onde residia com membros da Molipo: Aylton Adalberto Mortati e Maria Augusta Thomaz. De acordo com a falsa versão divulgada pelo Estado, José Roberto Arantes de Almeida teria sido gravemente ferido em tiroteio, em ação que culminou com o estouro de um “aparelho”, com a utilização de bombas de gás lacrimogêneo e granadas. José Roberto teria morrido após confronto com agentes de segurança. Ressalta-se que o documento, oriundo da Escola Nacional de Informação (ESNI), apesar de relatar que havia quatro integrantes no local, não faz nenhuma referência a Aylton Mortati, preso na mesma ação. As investigações sobre esse episódio, realizadas ainda pela Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, revelaram a existência de elementos que desqualificam a falsa versão divulgada. A requisição de exame apresentada ao Instituto Médico-Legal de São Paulo (IML/SP) pelo DOPS/SP traz a letra “T”, utilizada à época para referir-se a categoria de indivíduos considerados “terroristas”. Em resposta à solicitação, em 9 de novembro, o laudo de exame do IML/SP, assinado por Luiz Alves Ferreira e Vasco Elias Rossi, reconhecem a morte de José Carlos Pires de Andrade, codinome que era utilizado por Arantes, atesta: “[…] segundo consta, trata-se de elemento terrorista, que faleceu em tiroteio travado ao resistir à prisão, com militares da OBAN [DOI-CODI/SP], vindo a falecer às 17h30, aproximadamente, no dia 4 de novembro de 1971, sendo encontrado no pátio do trigésimo sexto distrito policial.” Como o documento refere-se ao local da morte sendo o 36a DP, localizada na rua Tutóia, sede do DOI-CODI/II Exército na época, depreende-se que José Arantes teria sido levado com vida ao local, aonde veio a falecer. O corpo desse militante foi levado ao IML, no dia em 5 de novembro, às 18 horas. O laudo também afirma que o corpo tinha dois ferimentos perfuro-contuso de formato ovular, medindo três centímetros na maior dimensão, localizados na parte média da região frontal, o que não se confirma na foto do corpo de Arantes, posto que não aparenta esses dois ferimentos à bala na cabeça, mas grandes equimoses na região malar esquerda. Além disso, o laudo mencionado não faz referências a ferimentos nessa região. Os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de São Paulo reproduziram a versão oficial divulgando a morte de Arantes somente no dia 9 de novembro de 1971. A família foi comunicada de sua morte após o corpo ter sido enterrado como indigente no Cemitério Dom Bosco, sob a falsa identificação de José Carlos Pires de Andrade, assim como constava no laudo de exame do IML/SP. Os familiares de José Roberto somente conseguiram o translado do corpo para o Cemitério Municipal de Araraquara, em 16 de novembro de 1971, por meio de contatos políticos dentro do DOPS/SP. Os restos mortais de José Roberto Arantes de Almeida foram enterrados no cemitério Municipal de Araraquara.
Diante das investigações realizadas, conclui-se que José Roberto Arantes de Almeida morreu em decorrência de ação perpetrada por agentes do Estado brasileiro, em contexto de sistemáticas violações de direitos humanos promovidas pela ditadura militar implantada no país a partir de abril de 1964. Recomenda-se a retificação da certidão de óbito de José Roberto Arantes de Almeida, assim como a identificação e responsabilização dos demais agentes envolvidos.