Lúcia Murat, hoje cineasta, iniciou sua militância política na universidade e foi uma das estudantes presas no Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) em Ibiúna (SP). Após o Ato Institucional Nº 5 (AI-5), entrou na clandestinidade.
Militante da Dissidência Estudantil da Guanabara, posteriormente, Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), foi presa em março de 1971, aos 22 anos, e levada ao DOI-Codi, na rua Barão de Mesquita, no Rio de Janeiro. Segundo seu depoimento, foi intensamente torturada, com pau de arara, eletrochoques e espancamentos. Após dois dias de torturas, sem poder mexer a perna direita e muito ferida, foi levada a uma enfermaria, onde, segundo ela, foi tratada pelos mesmos médicos que a examinavam durante a tortura: Amílcar Lobo e Ricardo Fayal.
Em seguida, foi transferida para Salvador, onde havia vivido um ano como clandestina. Na capital baiana, passou a ser interrogada, sem torturas, e a receber tratamento para sua perna. Voltou ao DOI-Codi do Rio, onde sofreu mais torturas, inclusive sexuais. Ficou presa até 1974. Lúcia afirmou à Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro que hoje reconhece alguns de seus torturadores: “Major Demiurgo, então chefe do DOI-Codi e que mantinha contato com nossas famílias; tenente Armando Avolio Filho, de nome de guerra Apolo; e Riscala Corbage, o Nagib”.
Na década de 1980, Lúcia passou a se dedicar ao cinema e dirigiu diversos filmes. Alguns deles abordam a temática da ditadura militar, como Que bom te ver viva (1989), Quase dois irmãos (2004), e A memória que me contam (2013), este último inspirado na vida da também militante e amiga de Lúcia, Vera Silva Magalhães.