Manifestante do Movimento Negro Unificado (MNU) em ato no centro de São Paulo, em 1980. O cartaz com a frase "Negro é Gente!" sintetiza a luta do movimento contra a violência e a desumanização da população negra, denunciando a falácia da "democracia racial" durante a Ditadura Militar.
Manifestante do Movimento Negro Unificado (MNU) em ato no centro de São Paulo, em 1980. O cartaz com a frase "Negro é Gente!" sintetiza a luta do movimento contra a violência e a desumanização da população negra, denunciando a falácia da "democracia racial" durante a Ditadura Militar.

Racismo institucional e repressão a populações negras na ditadura

Racismo institucional e repressão a populações negras na ditadura

Durante décadas, a vida social e política da população negra esteve invisibilizada nas narrativas sobre a ditadura militar brasileira. Paradoxalmente, pouco se sabia sobre como essa parcela da sociedade, que historicamente convive com violências de diversos tipos, teria experienciado os anos de repressão das décadas de 60, 70 e 80. Esse cenário, contudo, vem mudando: já existe uma série de estudos que colocam a vida negra no centro das análises sobre o regime autoritário que vigorou no país entre 1964 e 1985.

Diferentemente do que as pesquisas mais tradicionais permitiam intuir, homens e mulheres negros foram afetados de múltiplas formas pela ditadura militar. Afinal, em um regime daquela natureza, poucos não são atingidos por tamanha restrição de direitos. E, no caso da população afrodescendente, a discriminação racial ganhou novos contornos – além de uma descredibilização do ativismo negro por parte do Estado brasileiro.

Mesmo em um contexto de autoritarismo extremo, que dificultava a mobilização política, os ativistas antirracistas, organizados em entidades de matizes diversos do movimento negro, impuseram as suas demandas e enfrentaram a ditadura militar. Esse embate, entretanto, não foi considerado uma forma marcante de resistência ao regime pela historiografia do tema, em mais um exemplo do apagamento desse segmento político.

Manifestação do Movimento Negro Unificado (MNU), contra a lei Afonso Arinos (Lei nº 1.390, de 3 de julho de 1951), que foi a primeira legislação brasileira a classificar o racismo como contravenção penal, ou seja, como um delito de menor potencial ofensivo — e não como crime propriamente dito. São Paulo, 1980. Foto: Jesus Carlos. Direitos de reprodução reservados.
Manifestação do Movimento Negro Unificado (MNU), contra a lei Afonso Arinos (Lei nº 1.390, de 3 de julho de 1951), que foi a primeira legislação brasileira a classificar o racismo como contravenção penal, ou seja, como um delito de menor potencial ofensivo — e não como crime propriamente dito. São Paulo, 1980. Foto: Jesus Carlos. Direitos de reprodução reservados.

Infelizmente, não é apenas na memória social da ditadura que as experiências negras são colocadas em segundo plano. De maneira geral, aprendemos sobre diferentes momentos da história do nosso país tendo poucas referências a respeito das contribuições e resistências dos afrodescendentes. Tal silenciamento é fruto do racismo que alcança também a produção de conhecimento, ofuscando a agência histórica desse grupo e apoiando a manutenção de estruturas de poder e desigualdade.

O fenômeno das comissões da verdade no Brasil, despontado pela experiência federal da Comissão Nacional da Verdade (CNV), também refletiu essa lacuna. Poucas comissões mobilizaram a questão racial, reforçando o apagamento da população negra na história da ditadura militar.

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