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Táticas e estratégias de guerrilha

Táticas e estratégias de guerrilha

Em linhas gerais, as propostas de guerrilha priorizavam a luta armada na zona rural, a partir da visão de que esse era o elo mais frágil do capitalismo brasileiro, por se tratar da parte menos desenvolvida do país, onde o contraste e a miséria eram mais gritantes. Além disso, a imensa zona rural brasileira ofereceria bases e esconderijos mais inacessíveis à repressão estatal.

Grupos como a Aliança Libertadora Nacional (ALN) iniciavam a luta nas cidades, buscando conseguir recursos financeiros para montar uma estrutura de guerrilha rural. Já o PCdoB privilegiava a luta na zona rural, por acreditar que os camponeses eram a “classe revolucionária” por excelência, fornecendo a base para um grande exército popular, que “libertaria” zonas rurais inteiras e cercaria as cidades. Era assim, ao menos nos planos teóricos dos grupos.

O ano de 1968 foi marcado por assaltos a bancos e atentados à bomba, como o que matou o jovem recruta Mário Kozel Filho, que estava de guarda no Quartel General do 2º Exército. Era o sinal de que parte da oposição, principalmente da juventude, estava aderindo à luta armada. De fato, a ALN, a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), a Ala Vermelha e outros grupos já vinham desde o ano anterior praticando assaltos a bancos e outras ações armadas.

Em 1969, a guerrilha estava ainda mais ousada. Em julho, uma ação da VAR-Palmares roubou um cofre da casa da amante do ex-governador de São Paulo, Adhemar de Barros, depósito do caixa 2 do político, com cerca de US$ 2,4 milhões.

Em setembro, outra ação espetacular: um comando misto do MR-8 e da ALN sequestrou o embaixador estadunidense, Charles Elbrick, feito único até hoje na história mundial das guerrilhas. Em troca, foram libertados 15 presos políticos.

O sequestro inaugurou um ciclo de ações envolvendo o cativeiro de diplomatas estrangeiros ao longo de 1970, sempre libertados em troca de dirigentes das organizações ou militantes que estavam sendo torturados nas prisões. Por outro lado, a cada ação da esquerda, a repressão se tornava mais violenta.

Com a morte de Carlos Marighella, grande liderança da ALN, em novembro de 1969, Carlos Lamarca se tornou o guerrilheiro mais conhecido e perseguido do Brasil. Depois de algumas ações urbanas, Lamarca seguiu com um grupo de guerrilheiros da VAR-Palmares para um treino de luta no Vale do Ribeira, região de mata no interior de São Paulo.

Carlos Lamarca em treinamento com funcionárias do Bradesco
Carlos Lamarca em treinamento com funcionárias do Bradesco.

Descoberto em abril de 1970, o grupo foi cercado por milhares de soldados do Exército e da PM paulista. Depois de vários combates, batalhas e episódios controversos, que incluem até a execução de um refém, o tenente Alberto Mendes Jr., o grupo liderado por Lamarca conseguiu romper o cerco. O mesmo não aconteceu em 17 de setembro de 1971, quando Lamarca e José Campos Barreto, depois de fugirem por mais de trezentos quilômetros pelo sertão baiano, foram encontrados e executados pelas forças de segurança.

Apesar dos esforços do regime para banir Lamarca da memória nacional, incluindo a proibição de a imprensa citar seu nome após sua morte, o ex-capitão que se uniu à guerrilha se tornou um mito. Ao lado de Marighella e Eduardo Leite, o “Bacuri”, foi o guerrilheiro mais conhecido e caçado de sua época. A morte deles, entre fins de 1969 e 1971, quando a guerrilha ainda tentava se firmar como opção de confronto com a ditadura, era sinal de que a luta armada estava cada vez mais cercada pela repressão e isolada do conjunto da sociedade.

Líderes como Lamarca e Marighella já estavam intuindo esse isolamento e tentando consolidar bases rurais da guerrilha para fazer o chamado “trabalho político” de conscientização junto às populações locais. Mas a repressão à guerrilha foi mais rápida e letal.

Ao longo desse período os militares liquidaram paulatinamente as organizações da guerrilha urbana. No Araguaia, a guerrilha rural foi atacada pelo Exército a partir de abril de 1972, resistiu por mais de dois anos, e foi dada por completamente derrotada em janeiro de 1975.

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