Cantora e violonista desde os nove anos, Violeta Parra ingressou na carreira musical aos 15, após a morte do pai. Naquele ano, deixou a casa da mãe, no interior do Chile, e foi morar em Santiago com o irmão Nicanor, que estudava na capital. Logo formou com a irmã Hilda a dupla Las Hermanas Parra, que cantava músicas folclóricas na noite. As canções viraram seu ganha-pão e firmaram seu passaporte para o sucesso como compositora e folclorista.
Em 1953, Violeta já havia lançado os primeiros álbuns de sua carreira solo, quando a música tradicional chilena viveu um período áureo de resgate e valorização. Pôs-se a mapear ritmos, danças e canções populares, abdicando paulatinamente dos boleros que costumava cantar, e reuniu cerca de 3 mil canções tradicionais.
Violeta não era isenta em seu trabalho. Assumia uma posição de defesa daquele patrimônio, o que a colocaria na ponta de lança do movimento da nueva canción, na década seguinte. Já em 1956, quando a gravadora Odeon produziu uma série de discos intitulada El Folklore de Chile, Violeta foi chamada para coordená-la. Organizou os quatro primeiros volumes, num período em que tanto as rádios quanto o mercado fonográfico se dispunham a reproduzir aquele repertório. Na época, Violeta comandava o programa Canta Violeta Parra, na Rádio Chilena.
Nos anos 1960, Violeta, que também era artista plástica, excursionou pela Europa como cantora, morou em Genebra, e foi a primeira artista latino-americana a ter uma exposição individual no Museu do Louvre. Desfeito o terceiro casamento, voltou ao Chile em 1965, a tempo de lançar com os filhos Ángel e Isabel a Peña de los Parra, híbrido de centro cultural e bar onde o público podia escutar música boa e tomar vinho.
Naquele ambiente, foi novamente estimulada a compor, agora para os dois filhos, que inauguravam suas carreiras musicais. Ali, Violeta estabeleceu contato com os também cancioneiros Víctor Jara (então namorado de sua filha Isabel), Rolando Alarcón e Patrício Manns.
Deprimida desde a morte precoce de uma filha de poucos meses, em 1964, e desiludida com o afastamento do terceiro marido, o músico suíço Gilbert Favre, com quem ainda buscava uma reconciliação, Violeta se matou com um tiro, em 1967, aos 49 anos.
Seu legado é inestimável para a música engajada latino-americana. Suas canções mais conhecidas são “Gracias a la Vida”, gravada por artistas como Mercedes Sosa, Elis Regina, Grupo Tarancón e Joan Baez (responsável por torná-la um hit também nos Estados Unidos), e “Volver a los 17”, mais conhecida no Brasil nas vozes de Mercedes Sosa e Milton Nascimento, em dueto. Sua história foi contada em 2011 no filme Violeta foi para o Céu, do diretor Andrés Wood.
“(…) Quando nasceste foste batizada
como Violeta Parra:
o sacerdote levantou as uvas
sobre tua vida e disse:
‘Parra és
e em vinho triste te converterás.’
Em vinho alegre, em peralta alegria,
em barro popular, em cantochão,
Santa Violeta, tu te converteste,
em violão com lâminas que reluzem
ao brilho da lua,
em ameixa selvagem
transformada,
em povo verdadeiro,
em pombo do campo (…).”
(Pablo Neruda, em “Elegía para cantar”, de 1970).