Boias-frias em greve em Guariba no ano de 1984
A foto retrata a marcha dos "bóias-frias" durante a greve dos cortadores de cana em Guariba (SP), em maio de 1984. Exigindo melhores salários e condições de trabalho, os trabalhadores rurais protagonizaram uma das maiores paralisações do setor no período. Ocorrida em meio à campanha das "Diretas Já", a greve de Guariba foi um marco da reorganização e da luta dos movimentos sociais do campo na fase final da ditadura militar, mostrando a força da pressão popular na transição para a democracia.

Os “boias-frias”

Os “boias-frias”

Em São Paulo continuava a exploração sem limites do trabalho dos cortadores de cana, os “boias-frias”. Vindos de vários estados do Nordeste para a região canavieira de Ribeirão Preto e seus arredores, esses trabalhadores, que chegaram a ser 400 mil na década de 1980, não tinham nenhum direito reconhecido. Trabalhavam por salários miseráveis, durante meses seguidos, em ritmo exaustivo e por produção, sem folgas e sem ter como conferir o peso do que haviam produzido.

Em maio de 1984, na pequena cidade de Guariba, estourou uma greve de 10 mil boias-frias. Era um movimento espontâneo, resultado de um sentimento de revolta contra mais uma medida espoliadora decretada pelos proprietários das usinas. A medida mudava o sistema de corte da cana para facilitar para as carregadeiras, mas exigia um trabalho muito mais exaustivo para os cortadores de cana, violando ainda mais seus direitos. A greve se estendeu a outros canaviais, até mesmo de Goiás, Minas Gerais e do Rio de Janeiro.

Em Guariba, 5 mil trabalhadores enfrentaram a tropa de choque da PM, com saldo de um trabalhador morto e 19 feridos, 14 deles baleados. Como sequer tinham um sindicato, eles foram atendidos pela Federação dos Trabalhadores Agrícolas de São Paulo (Fetaesp). As reivindicações foram organizadas e se estabeleceu o “Acordo de Guariba”.

Os patrões aceitaram os principais pontos da pauta: volta do sistema anterior de corte, carteira assinada, notificação diária da quantidade cortada por cada um, pagamento por metro e não por tonelada de cana, fornecimento de instrumentos de trabalho e proteção, transporte seguro e gratuito, acordos anuais, entre outros. Paralisações alcançaram outros municípios e o acordo foi estendido para todos os cortadores de cana do Estado de São Paulo.

Vitória histórica, mas o cumprimento dos acordos foi extremamente difícil. Passada a greve, as usinas trataram de ignorar muitos dos pontos acordados. Eles só foram bem cumpridos onde se formaram sindicatos fortes e atentos. As condições de trabalho dos cortadores de cana de São Paulo continuam a ser bastante problemáticas até os dias atuais.

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