Diferentemente do rádio, a televisão ainda estava longe de ser um veículo de massa no Brasil dos anos 1960. Porém, com diversos investimentos do regime militar e de grupos estrangeiros, esse meio de comunicação cresceu vertiginosamente e atingiu a consolidação no país durante a ditadura.
Os militares tinham interesse numa rede que abrangesse o país. Em nome da “integração nacional”, foi criado o sistema Embratel, com o objetivo de fornecer infraestrutura de comunicação. O chamado “milagre econômico” era propagado através do telejornalismo, que nasceu como porta-voz do regime. Por meio da TV, grandes obras foram anunciadas.
Para compreender o que era a televisão nos anos da ditadura, é importante conhecer a sua programação: os seriados norte-americanos como Bonanza, Bat Masterson, Jeannie é um Gênio, além de filmes, conquistavam boa parte da audiência. Havia grande destaque para os programas musicais, como O Fino da Bossa, os festivais da canção e o programa Jovem Guarda. Outra categoria que atraía telespectadores era a composta pelos programas de variedades, com entrevistas, números musicais e debates, e para os programas de auditório, comandados por comunicadores de grande carisma popular, como Chacrinha e Silvio Santos.
A telenovela diária começou a se consolidar em meados dos anos 1960, seguindo scripts de novelas radiofônicas. Um exemplo é Direito de Nascer, exibida pela TV Tupi em 1964. Mas foi na década de 1970 que a novela diária se firmou como grande gênero televisivo.
A telenovela da Rede Globo, por exemplo, foi renovada graças a muitos autores de esquerda, que tentavam desenvolver a linguagem do melodrama a partir de temas mais conectados aos problemas nacionais (luta pela terra, conflitos e desigualdades sociais). Autores como Dias Gomes elaboraram uma linguagem mais realista e mais sofisticada, utilizando-se do humor.
Nos anos de chumbo, a crítica ao governo era raríssima na televisão, pois a censura oficial e a autocensura das emissoras era rigorosa. Na contramão do jornalismo que evitava apregoar críticas ao regime estava a TV Cultura, que se tornou um modelo de TV pública de alta qualidade, na teledramaturgia e no telejornalismo, mas sofreu um duro golpe com a prisão e a morte de Vladimir Herzog. A emissora mostrava em seus telejornais vários problemas que as outras não mostravam, como a seca do nordeste e a miséria.
A televisão se estabeleceu profissionalmente como o principal meio de comunicação de massa do Brasil durante os anos do regime militar. Os investimentos na área foram visíveis quando houve a primeira transmissão via satélite, com a chegada do homem à Lua, e a modernização trazida pela TV a cores. Mais do que tudo, a televisão talvez tenha sido a mais poderosa experiência social dos anos 1970 e 1980, mistura paradoxal de alienação e realidade.