Outra instituição-chave para a propaganda ditatorial foi a Agência Nacional, órgão criado ainda no Estado Novo, cuja atribuição era a comunicação oficial do governo. Porém, durante o período da ditadura civil-militar, passou a responder diretamente ao Executivo, o que transformou suas informações e notícias em propaganda disfarçada. Como afirma Tatyana Maia (2018), durante a ditadura civil-militar, o governo não descuidou de sua autoimagem, investindo em diferentes instituições para garantir representações positivas por meio da AN. E, entre os principais aspectos a serem explorados por essas representações, estava a ideia de Utopia Autoritária, ou seja, de que os militares eram incorruptíveis e os atores políticos mais indicados para conduzir a nação naquele momento.
Quando nos referimos a momentos distintos, destacamos que, apesar de o investimento na propaganda ser constante, a forma como ela foi elaborada e utilizada pelos diferentes presidentes-ditadores variou. Conforme a historiografia demonstra, Castelo Branco, por exemplo, demonstrou-se resistente em utilizar meios propagandísticos em seu governo, temendo ser comparado a líderes personalistas como Getúlio Vargas. Dessa forma, na época, a Agência Nacional destacou o papel das Forças Armadas como braço amigo da nação, mostrando-a próxima da sociedade civil e contribuindo com a ideia de uma “ditabranda”. Elaborando uma memória sobre si que lhe confere a condição de militar moderado, Castelo pouco aparecia nas produções da AN, cedendo espaço para as pautas ligadas à Modernização Autoritária e Conservadora, outro aspecto crucial para o consenso em torno da ditadura.
Demonstrando que as imagens públicas nunca são alheias ao seu contexto de produção, seu sucessor investiu massivamente na elaboração de materiais favoráveis ao regime. Ao analisar dados quantitativos da Agência Nacional, identificamos que Costa e Silva teve índices muito superiores na elaboração de cinejornais, fotografias e documentários de divulgação. Marcado pela promulgação do Ato Institucional nº 5, suas representações buscavam difundir os projetos de governo em curso, protagonizados por sua presença nas imagens. Dessa forma, o tema do desenvolvimento foi foco por diversos pontos de vista, dos quais salientamos o princípio da promessa de milagre econômico, a fim de agradar seus apoiadores. Em uma das imagens mais emblemáticas da época, Costa e Silva apresenta uma arma de fogo a um indígena, que segurava um arco e flechas — registro que ilustra de qual modernização a ditadura estava falando.
Cinejornal Informativo de 1969, produzido pela Agência Nacional, registra eventos com a presença do presidente Costa e Silva, incluindo a visita aos indígenas carajás, na qual entrega uma arma a um indígena em gesto simbólico e menciona a catequização em pleno século XX.
Após o acirramento empreendido pelos acontecimentos de 1968, a década de 1970 ficou marcada pelo esforço em reconquistar parcelas de apoio fragilizadas pelo aumento da repressão. Dessa forma, o governo Médici foi responsável por elaborar representações que se tornaram marcantes para o período, explorando temas como a conquista do Tetra na Copa do Mundo de Futebol. Exaltando o desenvolvimento e colorindo o país com as cores da bandeira, entoada pelos “90 milhões em ação” e com slogans como “Ame-o ou Deixe-o”, a propaganda da época foi muito marcante.Apesar de inferior em termos quantitativos, consolidou uma cultura visual do Brasil na época. Além de explorar os sucessos no mundo esportivo, o Milagre Econômico ganhava as telas por meio das obras faraônicas, da popularização da TV e dos índices financeiros do país. Enquanto isso, os porões da ditadura se enchiam cada vez mais, em uma época em que a violência da repressão também atingiu níveis ainda maiores, sustentados por instituições como o SNI.

“Brasil: ame‑o ou deixe‑o”, slogan da propaganda oficial da ditadura militar brasileira (1970–1974), era usado em adesivos, vinhetas e músicas nacionalistas para exigir apoio incondicional ao regime, exilando e silenciando opositores. A frase foi inspirada em “America, love it or leave it”, um lema similar adotado nos EUA durante a Guerra do Vietnã, usado por nacionalistas para deslegitimar protestos e impor conformismo político.
Aos poucos, porém, o sucesso econômico se mostrou em decadência. Acompanhado por uma grave crise econômica nacional e internacional, a base de apoio ao regime também já não era mais a mesma. Pressões externas e internas questionavam os rumos do governo ditatorial, que não tinha a intenção de devolver o poder ao modelo democrático. Assim, coube a Ernesto Geisel a tentativa de retomar a popularidade do Executivo. E, nas imagens, tudo isso fica em evidência. Responsável por mudar os protocolos e se aproximar da população civil – ainda que de forma seguramente controlada e teatralizada –, buscou exaltar o desenvolvimento econômico e, para isso, utilizou amplamente a figura dos trabalhadores. Porém, tal destaque não lhes conferia lugar de fala nem espaço de atuação política, apenas servia como estratégia de representar apoio civil ao regime.
Conhecido pela transição política lenta, gradual e segura, Geisel foi um dos responsáveis pela condução das negociações que vieram a encerrar o governo anos depois, sem rupturas ou responsabilização de seus agentes. Em 1979, a ditadura já se encontrava em franca crise de legitimidade e seu último e controverso ditador, João Figueiredo, pouco investiu na elaboração de propaganda. Lembrado na história pela frase proferida pedindo que os brasileiros “Me esqueçam”, parece ter estendido esse desejo às imagens públicas da ditadura, que não parecia mais se preocupar com a necessidade de publicização das pautas políticas.