Quando se fala em resistência e repressão na época da ditadura militar brasileira, raramente lutas e violações de direitos humanos ocorridas nas zonas rurais são abordadas. A Guerrilha do Araguaia é a mais conhecida, mas, mesmo assim, o que tem mais destaque são os líderes que vinham de centros urbanos. Os assassinatos de camponeses da região cometidos pelas forças repressoras do Exército recebem pouca visibilidade.
A resistência rural é esquecida a ponto de as vítimas do Estado que são originárias do campo não serem, muitas vezes, sequer contabilizadas pelas estatísticas oficiais. Mas, segundo a Comissão Pastoral da Terra, entre 1962 e 1989 nada menos do que 1.566 trabalhadores rurais foram assassinados.
O governo militar, preocupado com a explosão de conflitos no campo, esboçou um conjunto de políticas sociais para o pequeno agricultor, mas elas não foram suficientes para alterar o quadro de exploração, miséria, concentração de terras e, consequentemente, violência.
Após o fim do regime militar, em 1985, as lutas no campo se ampliaram. Os seringueiros da Amazônia deram exemplos de luta social associada à consciência ambiental, liderados por Chico Mendes.
O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) se tornou um importante protagonista da política e das lutas sociais no Brasil. A atuação do MST, ao fim de 30 anos, resultaria em um milhão de famílias assentadas, em cerca de 80 milhões de hectares, segundo o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), área duas vezes maior que o território do Paraguai. Dados bastante positivos, mas, segundo o MST, insuficientes, pois cerca de 100 mil famílias continuam sem acesso à terra.