Nascido na Paraíba e radicado no Rio, Geraldo Vandré foi um dos mais enigmáticos personagens da música brasileira. De herói a bandido — ou vice-versa, conforme o ponto de vista — foi amado e odiado pela esquerda num intervalo de uma década. Colaborador do Centro Popular de Cultura da UNE (CPC) desde 1961, conheceu ali o também compositor Carlos Lyra, que se afastava da bossa nova em direção a uma música mais engajada. Logo fizeram juntos as primeiras canções, como “Aruanda”.
Mas foi em 1966 que Vandré ganhou repercussão nacional. Naquele ano, inscreveu no Festival da TV Record a música “Disparada”, composta com Théo de Barros e defendida por Jair Rodrigues. Dividiu o primeiro lugar com Chico Buarque, que concorria com “A Banda”, na voz de Nara Leão.
A consagração veio dois anos depois, quando “Para Não Dizer Que Não Falei das Flores”, também conhecida como “Caminhando”, ficou em segundo lugar no 3º Festival Internacional da Canção, atrás de “Sabiá”, de Tom Jobim e Chico Buarque, o mesmo adversário de 1966. A derrota enfureceu a plateia. “Caminhando”, afinal, era um tapa na cara da ditadura como ninguém jamais tinha ouvido. E Vandré, àquela altura, era ovacionado como o mais valente dos compositores. Especula-se que a euforia causada pela canção tenha apressado o Ato Institucional Nº 5 (AI-5), dali a um mês e meio.
Vandré se exilou no Chile e de lá viajou para Alemanha e França. Quando voltou, em 1973, já não era o mesmo. Decidiu que só faria “canções de amor” e, para espanto de seus fãs, compôs “Fabiana”, em homenagem à FAB, a Força Aérea Brasileira. Para muitos de seus contemporâneos, ele teria enlouquecido em decorrência das sessões de tortura. Em 2010, Vandré ressurgiu numa entrevista exibida pela GloboNews. Negou que tenha sido torturado e repudiou o rótulo de autor de músicas de protesto. “Eu não faço canção de protesto. Eu faço, fazia, música brasileira, canções brasileiras”, disse.