Três barbudos. Os irmãos Julio e Eduardo Carrasco se juntaram a Julio Numhauser em 1965 para criar um trio de neofolklore. Nesse estilo musical, em ascensão no Chile, conjuntos vocais apoiavam-se numa formação de câmara, normalmente com vários violões, para executar músicas tradicionais chilenas.
Os três barbudos planejavam fazer algo diferente. Queriam extrapolar os limites estéticos do gênero e experimentar novos formatos, investindo nos arranjos instrumentais mais do que nos arranjos vocais. Deram-se o nome de Quilapayun, “três barbas”, na língua mapuche, povo ameríndio original da região centro-sul do país. Deu certo. No ano seguinte, por ocasião do 1º Festival Folklórico Nacional, em Viña del Mar, o grupo arrematou o grande prêmio. Víctor Jara desempenhava a função de diretor musical do grupo. Em 1967, quando o Quilapayun lançou seu primeiro álbum, já era um quarteto: Carlos Quezada tinha se somado ao trio.
Rapidamente, o Quilapayun deixou de ser considerado um conjunto de neofolklore para se firmar como o primeiro grupo da nueva canción. No mesmo ano de 1967, gravou com Víctor Jara o álbum Canciones folklóricas de América, com direito a nome na capa e destaque equânime. Desde então, o grupo seguiu fazendo a base musical dos álbuns do compositor.
A parceria é comparável à que foi firmada, na mesma época, entre os brasileiros Chico Buarque e MPB 4. É do Quilapayun, por exemplo, o acompanhamento musical do LP Pongo em tus manos abiertas…, de 1969. Foi também com o grupo que o compositor subiu ao palco do 1º Festival de la Nueva Canción, naquele mesmo ano, para defender a vencedora “Plegaria a un labrador”. Também acompanhou discos de Isabel Parra e outros cantores, às vezes com seis, com sete ou oito integrantes.
Discos como Por Vietnam, de 1968, e Basta, de 1969, reúnem canções revolucionárias de diferentes nacionalidades e com diferentes temas. O mais famoso trabalho do grupo, no entanto, apareceria em 1970. Naquele ano, o Quilapayun, já como sexteto, lançou o disco Cantata Popular de Santa Maria de Iquique, um épico escrito por Luis Advis, no qual é narrado o massacre da Escola Domingo de Santa Maria de Iquique, de 1907.
Naquele ano, uma greve de operários que trabalhavam na exploração e no escoamento de salitre, na cidade portuária de Iquique, no norte do Chile, foi sufocada com violência pelo exército chileno. Soldados abriram fogo contra os manifestantes e dizimaram o protesto. Os relatos divergem quanto ao número de vítima: entre 1,1 mil e 3,5 mil conforme a fonte. Em 2008, foi eleito o quarto melhor disco chileno de todos os tempos em enquete realizada pela edição local da revista Rolling Stone.