41. Os estudantes protestaram pela convocação de Reinaldo
Reinaldo foi o melhor jogador do Campeonato Brasileiro de 1977 com sobras. Ainda assim, não era nome tão frequente na seleção quanto sua fase sugeria. Fato para gerar suspeitas quanto à motivação política de sua ausência, diante da postura combativa que o atacante tinha em relação à sua ideologia.
Foi quando o movimento estudantil de Belo Horizonte adotou também a causa do craque. A frase “Por que Reinaldo não pode ter opinião política?” foi pintada no muro da Universidade Católica de Minas Gerais, enquanto manifestações foram realizadas na Praça Sete de Setembro. A comoção popular também ganhou volume com as declarações da imprensa e do próprio presidente do Atlético Mineiro, Valmir Pereira, que se reuniu com Heleno Nunes. O craque acabou convocado para a Copa, mas num encontro com o presidente Geisel ouviu: “Você cuida de futebol. Deixa que a gente cuida da política”.
42. Um Flamengo X Corinthians na posse do presidente
A posse de João Baptista Figueiredo, em março de 1979, foi um megaevento. O regime realizou um show da Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel; um banquete com mais de 5 mil convidados, com comidas finas que iam de faisão a camarão; e um jogo de futebol entre Flamengo e Corinthians, disputado com os portões abertos no Serejão, em Brasília. Os rubro-negros venceram por 2 a 0, gols de Cláudio Adão e Tita, e foram condecorados com o “Troféu João Baptista Figueiredo”.
43. Presidente Figueiredo busca auxílio para salvar o futebol
“Já não há craques como antes no Brasil” e “a violência nos estádios aumenta a cada dia”. Críticas contemporâneas? Nem tanto. Essas eram as queixas do presidente eleito, João Baptista Figueiredo, pouco antes de tomar posse, em outubro de 1978. O político fez o pedido de ajuda a jornalistas que visitaram Brasília, sob a promessa de formarem um grupo de trabalho de alto nível para realizar a pesquisa junto a dirigentes, jogadores e juízes.
44. Mundialito de 1981: a seleção como “válvula de escape”
O desgaste da ditadura militar e o esfacelamento do “milagre econômico” fizeram com que o Mundialito de 1981, disputado no Uruguai, representasse um outro momento na relação da seleção brasileira com o regime. No lugar do ufanismo do tri em 1970, entrava o futebol como válvula de escape para um cotidiano difícil. “Uma vitória naquele momento representaria não o alinhamento nacional a um projeto político e econômico vitorioso, mas um pequeno momento de alegria diante de um cenário futuro que se apresentava sombrio”, explica o historiador Gerson Wasen Fraga. Mesmo na imprensa, foram mais comuns as críticas à ditadura durante a campanha do Brasil no torneio disputado em Montevidéu.
45. As Diretas Já abafam o hino na final do Brasileiro
A Emenda Dante de Oliveira já havia perdido o pleito no Congresso, mas o desejo pelas “Diretas Já” continuava vivo na população. Mais de 128 mil torcedores lotaram as arquibancadas do Maracanã para a final do Campeonato Brasileiro de 1984, entre Fluminense e Vasco. E os acordes do hino nacional não puderam ser ouvidos diante do coro feito pelas duas torcidas pedindo as eleições diretas.
46. Uma faixa pela anistia na torcida do Corinthians
Uma partida entre Santos e Corinthians, em 11 de fevereiro de 1979, registrou um dos maiores públicos da história do Morumbi. Mais de 103 mil pessoas viram o Corinthians vencer com gols de Sócrates e Palhinha. Mas a partida entrou para a história por outro motivo. No meio da torcida organizada Gaviões da Fiel, brotou uma faixa com os dizeres: “Anistia ampla, geral e irrestrita”. “Isso mostrou o perigo da popularização do movimento de anistia e serviu para acelerar o processo. O governo militar fez a anistia antes que fossem obrigados”, afirmou o advogado e militante político Aton Fon Filho, idealizador da ação no Morumbi.
47. O comunista campeão brasileiro em 1981
O centroavante Heber não é das figuras mais lembradas no Grêmio campeão brasileiro de 1981. Vindo do Goiás e reserva de Baltasar na maior parte da campanha, era conhecido por ser um jogador técnico. Mas também por sua ideologia. Nos anos 1980, período de distensão da ditadura militar, chegou a declarar numa entrevista que simpatizava com o comunismo. Além disso, sua própria figura mostrava essa rebeldia, com barba e cabelos longos.
48. Militar vetou mensagens políticas na camisa do Corinthians
Presidente do Corinthians entre 1981 e 1985, Waldemar Pires foi chamado no Rio de Janeiro pelo brigadeiro Jerônimo Bastos, então presidente do Conselho Nacional de Desportos (CND). “Vocês não podem utilizar esse espaço para fins políticos”, disse Jerônimo, segundo depoimento de Pires ao livro “Democracia Corintiana: a utopia em jogo”, escrito por Sócrates e Ricardo Gozzi. A partir de uma ideia do publicitário Washington Olivetto para chamar atenção para possíveis anúncios, mensagens alusivas às Diretas eram estampadas na camisa do Corinthians. Até o veto do brigadeiro. “Ele pediu que tirássemos a mensagem e nós o fizemos”, contou Waldemir Pires.
49. Quando Tancredo x Maluf virou Fla x Flu
Flamengo e Fluminense fizeram a decisão da Taça Guanabara de 1984 sob forte influência política. Afinal, os adversários na decisão resolveram se posicionar diante da disputa entre Tancredo Neves e Paulo Maluf, candidatos nas eleições indiretas que determinariam o primeiro civil a presidir o Brasil em 21 anos. Numa visita a Brasília, quatro jogadores tricolores deram uma passada no gabinete de Maluf. Deixa para o presidente rubro-negro, George Helal, se dizer tancredista. Os próprios candidatos começaram a palpitar sobre a decisão: para Tancredo, 3 a 1 Flamengo; para Maluf, 2 a 1 Fluminense. E, enquanto as torcidas rivais concordavam entre si nas arquibancadas, com faixas contra as “malufadas”, os flamenguistas anteciparam a vitória tancredista ao ficar com a taça.
50. A derrota das Diretas culminou no adeus do Doutor
O engajamento de Sócrates na reabertura do Brasil é evidente. Líder da Democracia Corintiana e capitão da seleção de 1982, o Doutor saiu às ruas para promover a campanha das Diretas Já. No último comício antes da votação da Emenda Dante de Oliveira, que decidiria se as eleições de 1985 seriam diretas ou não, o meio-campista prometeu permanecer no país se a democracia voltasse a ser lei no país. O “Dia do Fico de Dom Pedro III”, como passou a ser chamado pelos companheiros corintianos. Não pôde cumprir a promessa. “A emenda não passou e eu me senti, além de absolutamente frustrado e chocado, comprometido a ir embora”, afirmou. Acabou assinando com a Fiorentina, da Itália.