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Reinaldo em sua comemoração característica com o punho cerrado
Reinaldo em sua comemoração característica com o punho cerrado

Jogador anistiado, tragédia na Fonte Nova, os fuscas do Maluf

Jogador anistiado, tragédia na Fonte Nova, os fuscas do Maluf

31. Irmão de Zico foi o único jogador anistiado

Irmão de Zico, Nando foi perseguido pela ditadura até durante sua passagem pelo futebol de Portugal – a polícia de Salazar foi atrás do ex-jogador no hotel em que ele morava. No Brasil, começou a ser visto como subversivo pelo regime ainda na época de jovem, quando participou do Plano Nacional de Alfabetização, idealizado por Paulo Freire. Chegou a frequentar o Dops junto com sua prima Cecília, uma militante do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8).

Em 2003, Fernando Antunes Coimbra entrou com um processo na comissão de anistia do Ministério da Justiça. Sete anos depois, foi considerado pelo órgão um perseguido político dos ditadores, tornando-se, assim, o primeiro jogador de futebol a ser anistiado na história do Brasil.

32. Fonte Nova, uma tragédia ocultada

Inaugurada em 1951, a Fonte Nova foi ampliada, com a construção de um anel superior, sendo reinaugurada em 4 de março de 1971. Mais de 100 mil pessoas teriam comparecido ao estádio para assistir a Bahia x Flamengo e Vitória x Grêmio. No segundo tempo da partida de fundo, um refletor estourou e um pânico percorreu imediatamente as arquibancadas. Com medo de que o estádio viesse abaixo, pessoas chegaram a se jogar das arquibancadas e a invadir o campo. Oficialmente, fala-se em 2.086 feridos e dois mortos. No entanto, vivia-se o auge do regime militar e a construção de estádios era uma de suas armas. O trabalho da imprensa foi restringido, muitos atendimentos hospitalares não foram registrados e até hoje não se sabe ao certo o número exato de mortos e feridos.

33. Os produtores de cacau colocam o Itabuna no Brasileirão

“Onde a Arena vai mal, um time no nacional”. O lema tomou conta do Campeonato Brasileiro a partir de 1974. A derrota nas eleições da Aliança Renovadora Nacional (Arena), o partido do regime, fez com que o governo Geisel iniciasse uma prática clientelista através do futebol, integrando nacionalmente as cidades através da inclusão de clubes na competição nacional. De 42 times em 1975, o Brasileirão saltou para 94 participantes em 1979. Eram times como o Itabuna, da Bahia, convidado para o torneio de 1978 após um mutirão feito por produtores de cacau da região para arrecadar fundos, além do pedido do governador Roberto Santos, que pretendia tirar o prefeito do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido de oposição, da cidade baiana.

34. O futebol como segurança nacional no Vale do Paraíba

Além dos governadores, o regime militar também determinava os prefeitos das cidades que bem entendesse. As chamadas “cidades de segurança nacional” estavam nessa conta. E uma delas era Volta Redonda, da Companhia Siderúrgica Nacional, que ganhou um clube bancado pelos militares para distrair a população a partir de 1976. O “Voltaço” era liderado por Isnaldo Gonçalves, presidente da Arena municipal e chefe de gabinete do prefeito. Já no Vale do Paraíba paulista, naquele mesmo ano, o prefeito biônico ajudou na refundação do São José Esporte Clube. O município comprou o estádio Martins Pereira, salvando a entidade que acumulava dívidas. A partir de então, o clube mudou de cores e de mascote.

35. Os fuscas de Maluf à seleção de 1970

Não foi apenas Médici que bajulou a seleção tricampeã do mundo na volta ao Brasil. Prefeito biônico de São Paulo, Paulo Maluf deu 25 fuscas ao elenco que triunfara no México e tratou de propagandear a riqueza do povo paulistano ao premiar os jogadores. Entretanto, não eram todos os cidadãos que concordavam com o político. Em 1995, uma ação popular pediu que Maluf devolvesse o dinheiro gasto com os carros, mas o ex-prefeito venceu a disputa judicial no Supremo Tribunal Federal (STF). 

36. José Maria Marin e o assassinato de Herzog

Em 1975, José Maria Marin era deputado estadual pela Aliança Renovadora Nacional (Arena). O jornalista Vladimir Herzog retornara de Londres para assumir o comando do departamento de jornalismo da TV Cultura. Vlado fazia parte do Partido Comunista, o que não agradava nem um pouco ao governo. Por ser considerado subversivo, Herzog foi chamado ao DOI-Codi para interrogatório. De lá, não saiu vivo, com a versão dada pelos militares de que havia se suicidado. O filho de Vlado, Ivo, acusa Marin de ter endossado o discurso do deputado Wadih Helu, que pedia investigações no jornalismo da Cultura, por crer que praticavam um desserviço à população ao levar “desconforto não só aos círculos políticos, mas também aos lares paulistanos”.

37. Um militar na presidência da CBF

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) chegou a ter um presidente militar, com forte ligação com a ditadura. O Almirante Heleno Nunes presidiu a antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD) entre 1975 e 1979, e continuou à frente da entidade após a mudança de nome para CBF até 1980. Heleno Nunes chegou a dar nome a um torneio amistoso realizado em 1984 e vencido pelo Internacional. Oficialmente, a Granja Comary, centro de treinamentos da seleção, leva o nome do militar. No entanto, vereadores de Teresópolis criticaram a ausência de menções à figura de Heleno Nunes após a reformulação do local.

38. O minuto de silêncio por Jango no Beira-Rio

O Internacional tinha uma relação íntima com João Goulart. Afinal, os colorados podiam dizer que o presidente havia sido sua “prata da casa”, campeão juvenil quando passou pelas categorias de base do clube. Em 1976, Jango faleceu alegadamente de ataque cardíaco, em circunstâncias ainda hoje suspeitas. E o Inter resolveu homenagear antes de uma partida o presidente deposto pelos militares. O minuto de silêncio foi impedido por policiais responsáveis pela repressão do regime, mesmo sob vaias da torcida. Em dezembro de 2013, o clube relembrou o momento ao respeitar o minuto antes do jogo contra a Ponte Preta pelo Brasileirão.

39. O futebol foi peça-chave na descoberta da Operação Condor

O futebol contribuiu para que fosse revelada a Operação Condor, o consórcio entre países do Cone Sul para o sequestro e desaparecimento de militantes políticos. Numa tarde de novembro de 1978, o jornalista Luiz Cláudio Cunha, chefe da sucursal da revista Veja em Porto Alegre, recebeu uma denúncia de que um casal de uruguaios e seus dois filhos estavam sequestrados num apartamento do bairro Menino Deus. Cunha foi averiguar a informação e levou junto JB Scalco, conhecido pelo trabalho como fotógrafo de futebol. Ao baterem na porta do apartamento, surpreenderam militares uruguaios e policiais civis gaúchos mantendo sequestrada Lilian Celiberti. O fotógrafo reconheceu um ex-jogador do Internacional, Didi Pedalada, a essa altura trabalhando como torturador do Dops gaúcho. Foi o elo que permitiu a denúncia da Operação Condor – e a sobrevivência dos militantes sequestrados.

40. Reinaldo: gols de protesto

Ídolo do Atlético Mineiro, Reinaldo foi um dos jogadores que mais deu demonstrações públicas contra a ditadura militar. Na estreia da seleção brasileira na Copa de 1978, na Argentina, comemorou seu gol contra a Suécia erguendo o punho cerrado, a exemplo do que faziam os Panteras Negras nos Estados Unidos. O jogador do Galo chegou a ser capa do jornal alternativo Movimento: “Reinaldo: bom de bola e bom de cuca”, estampava a publicação em 1977. Por causa das posições políticas do jogador, sua presença no Mundial foi motivo de controvérsia. E o jogador continuou sendo alvo de perseguições.

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