O Milagre Econômico (1968/1973)

O Milagre Econômico (1968/1973)

O período conhecido como “milagre econômico” correspondeu ao período de maior crescimento econômico da ditadura brasileira. No governo de Emílio Garrastazu Médici (1968–1973), o crescimento médio do PIB brasileiro foi de 11,3% a.a. (ARAUJO; MATTOS); já o crescimento anual médio do setor industrial foi ainda maior e atingiu 12,7%. O contexto internacional foi muito importante para esses resultados, pois a aceleração daquele momento na economia mundial gerou demanda para os produtos exportados e possibilitou um maior acesso a divisas estrangeiras e ao crédito internacional.

Já do ponto de vista interno, diversas medidas foram responsáveis pelo “milagre brasileiro”. José Pedro Macarini denominou a estratégia econômica do período como “modelo agrícola-exportador”, perspectiva que ambicionava estimular a produtividade na agricultura e na indústria exportadora por meio de isenções fiscais, políticas de acesso a crédito e investimentos em infraestrutura. Vale observar que o “modelo agrícola-exportador” demandava vultosos investimentos para gerar as elevadas taxas de crescimento almejadas pelo governo Médici. Esses investimentos foram viabilizados pelas políticas de expansionismo monetário e de manutenção do arrocho salarial (garantido pela repressão aos sindicatos – afinal, esses eram também os “anos de chumbo”), que abriam margem para a elevação dos investimentos.

Além disso, a presença do Estado brasileiro se fazia sentir também na atuação direta e indireta na economia. O peso estatal na produção direta de insumos (energia ou minerais, por exemplo) e das redes de infraestrutura tornava o governo de Médici uma peça incontornável no cenário econômico brasileiro. Segundo Klein e Luna, o gigantismo estatal na economia brasileira era tão grande que “poucos projetos privados se iniciavam sem anuência de alguma instituição governamental para obter crédito, licença de importação ou subsídios fiscais”.

A consequência mais importante do intenso crescimento econômico desse período foi a ampliação das desigualdades sociais. Nas grandes cidades que receberam os imigrantes, o crescimento urbano sem planejamento provocou problemas de diversas ordens, especialmente quando se fala da mobilidade urbana e do saneamento básico. Por exemplo, ainda em fins dos anos 1980, 80% dos domicílios da periferia da cidade de São Paulo não faziam parte da rede de esgotos, e 54% sequer possuíam acesso à água (PAULINO). Do ponto de vista da renda, o problema é análogo, pois o modelo agrícola-exportador garantiu uma participação maior dos mais ricos na renda nacional. Lago assinalou que a participação dos 5% mais ricos na renda nacional saltou de 28,3% em 1960 para 39,8% em 1972; já a participação do 1% mais rico saltou de 11,9% em 1960 para 19,1% em 1972.

Nos termos da famosa frase associada a Antonio Delfim Netto, ministro da Fazenda no governo Médici, em 1973 o bolo parou de crescer antes de ser dividido, pois a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) fez valer seu poder de monopólio e o preço do barril de petróleo quadruplicou em alguns meses. Esse episódio ficou conhecido como primeiro choque do petróleo e trouxe dificuldades para a economia brasileira que, naquele ano, importava 81% de seu consumo (HERMANN).

HERMANN, Jennifer. Auge e declínio do modelo de crescimento com endividamento: o II PND e a crise da dívida externa. In: GIAMBIAGI, Fábio et al. Economia Brasileira Contemporânea( 1945-2010). São Paulo: Elsevier, 2011, p. 75.

LAGO, Luiz Aranha Corrêa. A retomada do crescimento e as distorçoes do “milagre”: 1967-1973. In: ABREU, Marcelo de Paiva (org.). A ordem do progresso: cem anos de política econômica republicana (1889-1989). São Paulo: Campus, 1989, p. 290.

PAULINO, Ana Elisa Lara. O impacto do “milagre econômico” sobre a classe trabalhadora segundo a imprensa alternativa. Revista katálysis, Florianópolis, v. 23, n. 3, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rk/a/sXk5ZyqcRkx5DHBCCfj8rLN/.

LUNA, Francisco Vidal; KLEIN, Herbert S. Transformações econômicas no período militar (1964-1985). In: REIS, Daniel Aarão; RIDENTI, Marcelo; MOTTA, Rodrigo Patto Sá (org.). A ditadura que mudou o Brasil: 50 anos do golpe de 1964. São Paulo: Cia das Letras, 2014.

MACARINI, José Pedro. A política econômica do governo Médici: 1970-1973. Nova Economia, Belo Horizonte, v. 15, n. 3, p. 53–92, 2005, p.61.

ARAUJO, Victor Leonardo de. A macroeconomia do governo Médici (1969-1974): uma contribuição ao debate sobre as causas do “milagre” econômico. In: ARAUJO, Victor Leonardo de; MATTOS, Fernando Augusto Mansor (org.). A economia brasileira de Getúlio a Dilma – novas interpretações. São Paulo: Hucitec, 2021, p.289-301.

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