Uma das primeiras consequências do golpe militar de 1964 foi o sufocamento da imprensa de esquerda, comunista, socialista, nacionalista. Deixaram de circular imediatamente após o golpe jornais e revistas, como Novos Rumos, Semanário, A Classe Operária, Política Operária, de organizações comunistas, ou Ação Popular, da organização de mesmo nome, e Movimento, da União Nacional dos Estudantes (UNE), entre muitos outros.
O jornal Última Hora, de Samuel Wainer, por exemplo, nacionalista e de apoio ao governo de João Goulart, de grande circulação em suas cinco edições regionais (Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco e Rio Grande do Sul), foi empastelado, e entregue a grupos jornalísticos golpistas.
A maioria esmagadora dos meios de comunicação (da imprensa escrita, do rádio e da TV) apoiou a ditadura e se submeteu aos ditames da censura oficial e dos patrões. Mas a imprensa liberal-conservadora que deu sustentação ao golpe, depois de quatro anos, também veio a conhecer a tesoura da censura estatal. Mesmo jornais alinhados ao regime militar, como O Estado de S. Paulo e o Tribuna da Imprensa, foram duramente censurados, principalmente a partir de 1970.
A ditadura não utilizou apenas a censura contra os meios de comunicação, também recorreu à pressão econômica a órgãos e empresas que não aderiram ao regime. A TV Excelsior, por exemplo, a de maior audiência no país, pertencente a um grupo industrial nacional (Simonsen) foi fechada, em represália ao apoio que o grupo dava ao governo Goulart. Seus equipamentos e instalações foram entregues à nascente Rede Globo. Apoiada por capital dos EUA e por farta publicidade oficial, a emissora viria a ser a porta-voz oficiosa da ditadura.
Mais adiante, o jornal liberal Correio da Manhã, do Rio de Janeiro, arrependido de ter apoiado o golpe, tornou-se um dos críticos do regime, foi fechado e sua proprietária, Niomar Moniz Sodré, presa.
Muitos jornalistas de esquerda que não queriam trabalhar para os grandes jornais comerciais, por se sentirem tolhidos em suas opiniões e em sua militância política, se organizaram para fundar pequenos jornais. Eram publicações em formato tabloide, um modelo mais barato, com matérias que iam do humor contra o regime à análise política aprofundada. Nascia, assim, a imprensa alternativa.
Um movimento que em poucos anos se tornou uma onda incontrolável. Chegaram a existir centenas de jornais, pelos menos 150 mais representativos, que se espalharam por todo o país, desde as metrópoles até os seringais do Acre. Podiam também ser contados às centenas os jornais, revistas, boletins, panfletos, cartazes, produzidos em outros países por exilados e seus apoiadores, em países como França, Itália, Portugal, Estados Unidos.
Mas com o recuo da ditadura, a anistia, a volta dos líderes da oposição que estavam exilados, as grandes greves de trabalhadores, a reorganização partidária, e a reanimação dos movimentos populares produziram uma rápida mudança no cenário político. A ampla frente pela democratização foi se desmanchando antes mesmo de alcançar plenamente seus objetivos, mérito da astúcia política da ditadura decadente, que conseguiu recuar em ordem, graças a medidas que promoveram a divisão da oposição.
A nova conjuntura, com cada força política procurando ocupar seu espaço, já não demandava jornais generalistas, jornais de frente. Cada partido ou tendência tratava de produzir órgãos de comunicação de massas com suas próprias propostas. A consequência disso foi que, entre 1979 e 1981, a imensa maioria dos jornais da imprensa alternativa foi deixando de existir. A grande imprensa, que tratou de tomar suas bandeiras (e descaracterizá-las), logo recuperou sua hegemonia diante do público. Além disso, uma onda de atentados a bancas de jornal, na mesma época, amedrontou os jornaleiros que vendiam publicações de esquerda.
Entretanto, é inegável que, sobretudo ao longo dos anos 1970, a imprensa alternativa foi um espaço importante de crítica ao regime militar, de divulgação de denúncias que não chegavam aos jornais comerciais e de debate das organizações de esquerda.