Manoel Aleixo da Silva foi morto, com um tiro nas costas, por agentes do DOPS/PE, em 29 de agosto de 1973, no município de Ribeirão, em Pernambuco, depois de ter sido preso no dia anterior. Segundo a versão oficial, Manoel teria sido morto em um tiroteio travado com agentes policiais no município de Ribeirão, depois de ter reagido à ordem de prisão. O auto de resistência lavrado pelo policial do DOPS/PE Jorge Francisco Inácio registra que Manoel teria reagido à voz de prisão com disparos de arma de fogo, o que resultou na sua morte “em face do revide da agressão sofrida”. A narrativa é reforçada pelo testemunho de outros dois agentes que teriam participado da operação e presenciado a morte de Manoel. Um deles, o policial Severino José de Barros, relatou que estava desarmado quando abordou Manoel, e que ele teria reagido empunhando uma arma e efetuando disparos. Em relatório sobre o caso, o diretor do DOPS/PE, José Oliveira Silvestre, convalidou a versão oficial e declarou que o policial Jorge Francisco Inácio “agiu no estrito cumprimento de dever legal, consoante disciplina a nossa legislação em vigor”. Segundo declarações do Delegado de Polícia Odon de Barros Dias, não foi instaurado inquérito para apurar a morte de Manoel “por se tratar de caso afeto à Segurança Nacional”. As investigações sobre o caso demonstram a falsidade da versão divulgada pelos órgãos de segurança. Manoel Aleixo foi preso em sua casa, na cidade de Joaquim Nabuco, no dia 28 de agosto de 1973, segundo os testemunhos da sua esposa e de vizinhos. A esposa Izabel Simplício da Conceição relatou que alguns homens foram até a sua casa naquele dia e levaram Manoel dentro de um “carro grande e verde, mais escuro que a cana”, que “parecia um [sic] veraneio do exército”. Seu relato é complementado pelo depoimento de Epitácio Ferreira, que contou ter visto Manoel dentro do carro, acompanhado pelos homens que o haviam detido: No dia em que Manoel foi preso, cruzei com ele, com vários homens dentro de um carro grande, que acho ser do exército, num local próximo de Ribeirão, indo para Recife. O veículo estava parado e eu vinha a pé, quando percebi as pessoas do carro e o Ventania dentro dele fazendo sinal, para que eu passasse direto. Entendi que estava acontecendo algo anormal e fiz que não estava vendo nada, foi quando peguei uma condução e fui para Joaquim Nabuco, chegando lá fui até a casa de Manoel e a mulher dele, Isabel, disse que uns homens o haviam levado de carro. No dia seguinte Manoel foi assassinado com vários tiros, a notícia saiu no jornal como um tiroteio em Ribeirão, mas ele não andava armado e jamais havia participado de tiroteio. Tanto a companheira Izabel, como Epitácio e José Laurêncio da Silva, vizinho do casal, suspeitaram da versão divulgada, segundo a qual Manoel tinha sido morto em tiroteio, uma vez que ele não andava armado. Além disso, segundo a nota oficial, Manoel teria sido encontrado em Ribeirão, onde estaria residindo, mas o militante nunca deixou de morar na cidade de Joaquim Nabuco, onde efetivamente foi preso, na presença de sua esposa, que confirmou a informação em seu testemunho. Foi localizado, em documentos oficiais, um Pedido de Busca do IV Exército, enviado à 7a Região Militar e à Secretaria de Segurança Pública de Pernambuco, datado de 24 de agosto de 1973, que solicitava a prisão imediata e apresentação de Manoel Aleixo àquele órgão. Posteriormente, a morte de Manoel Aleixo foi informada em documento do CISA, do dia 7 de janeiro de 1974, como resultado das operações realizadas pelo DOI-CODI/IV tendo em vista o desbaratamento do PCR: Esta Agência tomou conhecimento e divulga a seguinte informação: 1 – Em Recife, Maceió, Natal e João Pessoal, o PCR (Partido Comunista Revolucionário) vem sendo desmantelado pelo DOI/IV EX, com a prisão de dezenas de militantes e morte de três deles – Manoel Aleixo da Silva (Ventania), Emanoel Bezerra dos Santos (Flávio) e Manoel Lisboa de Moura (Mário ou Galego). O exame de necropsia realizado no dia 30 de agosto de 1973 concluiu que “O projétil de arma de fogo deflagrado na região clavicular esquerda, penetrou no tórax […], saindo na região mamária”, indicando que Manoel Aleixo foi morto com um único tiro nas costas. Não há informações precisas sobre o local onde foi sepultado o corpo Manoel Aleixo. No entanto, no cabeçalho da perícia tanatoscópica está inscrito “Cemitério de Ribeirão” em lugar incomum, o que pode sugerir que tenha sido enterrado neste cemitério. Diante dos testemunhos e documentos levantados, é possível concluir que, ao contrário da versão oficial, Manoel Aleixo foi preso por agentes do DOPS/PE em Joaquim Nabuco, no dia 28 de agosto de 1973 e levado para Recife, morrendo no dia seguinte, apenas, o que levanta indício de que tenha sido submetido a torturas. No dia 29, foi executado com um tiro nas costas. Quanto à atribuição de responsabilidade pela morte de Manoel Aleixo, há pelo menos três indicações possíveis. Em primeiro lugar, o policial Jorge Francisco Inácio assumiu a autoria do disparo que atingiu fatalmente Manoel, conforme o auto de resistência lavrado pelo próprio agente. Por sua vez, em telegrama enviado ao Diretor do Departamento de Polícia Interior de Recife, no dia 29 de agosto de 1973, o Delegado de Polícia de Ribeirão, Odon de Barros Dias, comunicou que aproximadamente às 8 horas daquele dia, “o Sgt Pm Oscar Egito da Silva que se achava a serviço secreto do exército assassinou a tiros de revólver o popular Manoel Aleixo da Silva”. Há ainda uma terceira hipótese baseada no depoimento prestado pelo ex-delegado do DOPS/ES, Cláudio Guerra, à CNV e à Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Câmara (CEMVDHC), em que o agente declarou ter ido a Pernambuco para matar Manoel Aleixo e descreveu as circunstâncias em que se desenrolou a operação. A versão oficial de morte foi reafirmada pelo Relatório do Ministério da Aeronáutica enviado ao Ministro da Justiça, Maurício Corrêa, em dezembro de 1993, que informa que Manoel Aleixo morreu “num tiroteio com a polícia no interior de Pernambuco”. Algum tempo depois, em 23 de fevereiro de 1996, Izabel Simplício da Conceição, esposa de Manoel Aleixo, deixou seu testemunho sobre a morte do seu companheiro: Acho que mataram ele porque ele era muito bom, era das Ligas Camponesas. Levaram Manoel não sei para onde, depois daquele dia tudo desabou na minha cabeça, foram muitos anos juntos, não dá para esquecer assim, depois disto, para mim o mundo desabou, espero que agora de alguma forma se faça justiça, para que nunca mais aconteça outro final de agosto tão triste, como o de ano de 1973.
Diante das investigações realizadas, conclui-se que Manoel Aleixo da Silva foi morto em decorrência de ação praticada por agentes do Estado brasileiro, restando desconstruída a versão oficial de tiroteio divulgada à época dos fatos. Essa ação foi cometida em contexto de sistemáticas violações de direitos humanos promovidas pela Ditadura Militar, implantada no Brasil em abril de 1964. Recomenda-se a emissão da certidão de óbito, se for o caso, assim como a continuidade das investigações sobre as circunstâncias do caso, para a identificação e responsabilização dos demais agentes envolvidos.