Racismo: assunto proibido

A ditadura militar interditou o debate racial como estratégia para desmobilizar os movimentos negros e emplacar uma ideia de unicidade entre os brasileiros. A única identidade defendida pelos militares era a nacional, a brasileira. Sendo assim, os grupos que ressaltavam outros pertencimentos, como os ativistas negros e negras, eram contestados, vigiados e punidos veementemente pelas forças de repressão. A ditadura defendeu de forma ampla que, no Brasil, não haveria racismo, respaldando-se no mito da democracia racial. Essa concepção – baseada, sobretudo, nas obras do sociólogo Gilberto Freyre – minimiza os efeitos nocivos da escravidão nas relações interpessoais e ilustra o país como um lugar livre de conflitos raciais.

O que era defendido pela ditadura, contudo, não encontrava escoro na realidade sociorracial brasileira, onde homens e mulheres negros figuravam nos piores índices relativos à saúde, educação, moradia, entre outros. Vale lembrar que a ditadura militar inicia-se no Brasil menos de um século após o fim da escravidão, em 1888, que relegou as pessoas negras a uma condição de semicidadania, ou seja, de acesso restrito a direitos fundamentais. Isto é, o país estava temporalmente próximo das mazelas do período de escravização de corpos negros, era provocado a lidar com a necessidade de integração social plena da população negra, mas seus líderes optavam por ignorar essa conjuntura de maneira deliberada – e ainda reprimiam aqueles que denunciavam esse cenário.

Por isso, devemos compreender o racismo como um elemento pertencente ao conjunto de valores sustentado pela ditadura militar. A defesa do mito da democracia racial foi empreendida para escamotear as desigualdades estruturais do país e controlar as mentalidades, camuflando as graves violações de direitos humanos que eram cometidas por agentes públicos orientados pela Doutrina de Segurança Nacional. Por isso, é tão comum ouvirmos comentários elogiosos à ditadura que atenuam as violências praticadas. Houve um esforço estratégico do regime em ocultar as tensões e emplacar justificativas a fim de legitimar os desmandos, nos quais o racismo e a ideia de harmonia entre as raças foram reiteradamente utilizados.

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