Começou em meados dos anos 1970 o segundo grande ciclo de resistência materializada em ações de protestos e críticas generalizadas ao regime, por vários setores sociais, sobretudo a partir de 1977, quando a oposição se intensificou à medida que a própria crise econômica se avizinhava.
Muitos setores da sociedade se tornaram contrários ao governo, cansados da censura, do AI-5, da repressão policial a qualquer atividade política que não fosse oficial ou reconhecida pelo regime militar. Além dos estudantes, entidades representativas da classe média, como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) romperam com o regime.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), entidade máxima da Igreja Católica no país, também foi importante para a oposição, confirmando a contrariedade aos valores da ditadura, que já dava o tom de muitas comunidades católicas dos bairros populares.
Em 1978, o Movimento Operário voltou à cena, capitaneado pelas greves dos metalúrgicos do ABC. Em 1984, o impressionante movimento pela volta das eleições diretas para Presidente demonstrava que o regime estava completamente isolado das demandas da sociedade.
Os movimentos de resistência no campo foram duramente reprimidos desde 1964. Somente recobraram forças a partir de 1979, com grandes greves de trabalhadores canavieiros do Nordeste e com as ocupações de latifúndios por trabalhadores do Sul e Sudeste, que conduziram à formação do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).
Apesar de desfrutar do apoio de alguns setores da população, não podemos, no entanto, concluir que a sociedade brasileira aceitou passivamente a ditadura. Ao longo de sua duração, sempre houve oposição, resistência e luta. Além da opção radical da luta armada, houve outras formas de resistência empreendidas pelos mais diversos grupos, indo da extrema esquerda a liberais moderados.
Mulheres, negros, indígenas, estudantes, operários, camponeses, intelectuais e jornalistas, entre outros, protagonizaram a resistência civil. Mas nem toda resistência ou oposição se fazia pelas mesmas bandeiras de luta. O próprio desenvolvimento econômico e a urbanização tornaram o Brasil uma sociedade multifacetada e complexa, com muitas demandas e valores nem sempre convergentes entre si.
Os movimentos de esquerda (estudantil, operários, de bairro, etc.) defendiam pautas e reivindicações diferentes dos grupos liberais (empresários, jornais da grande imprensa, profissionais liberais e políticos de carreira), embora todos falassem em democracia e respeito aos direitos humanos. Essa desunião entre movimentos e pluralidade de propostas foi manipulada pelo regime para se manter relativamente forte ao longo dos anos e negociar os termos da transição democrática.
Apesar de não existir uma pauta comum, a resistência colocou na agenda a questão da democracia, da justiça social e dos direitos humanos, e obrigou o regime a mudar seus planos iniciais de institucionalização, forçando-o a reconhecer outros atores sociais e políticos, além das oposições e instituições permitidas.