Entre 1966 e 1968, os estudantes foram a ponta de lança das insatisfações da classe média com a política econômica recessiva do governo Castelo Branco, realizando grandes protestos. O ápice dessas manifestações foi a Passeata dos Cem Mil, em junho de 1968. No mesmo ano, os operários, que tinham sofrido centenas de intervenções em seus sindicatos, voltaram à cena, realizando as primeiras grandes greves desde 1964.
Mas a dura repressão dos anos de chumbo, somada à volta do crescimento econômico, criou um clima de aparente “apatia social” que não se sustentaria por muito tempo. Enquanto os guerrilheiros eram massacrados, a população trabalhadora parecia se interessar mais por futebol e a classe média em consumir e ganhar dinheiro. O regime parecia triunfar.
Nesse período, a UNE fez grandes passeatas, mobilizou greves e organizou congressos clandestinos da entidade, onde os estudantes foram duramente reprimidos. Sofreram espancamentos generalizados nas manifestações, aos quais ofereceram resistência, resultando em combates de rua com a polícia militar. Estudantes foram presos, feridos, mortos.
Ainda em 1965, manifestações públicas foram protagonizadas pelo movimento estudantil. Mas foi em 1968, após o assassinato do estudante Edson Luiz que as manifestações de massa ganharam outra magnitude, principalmente na cidade do Rio de Janeiro, onde a população começou a aderir às passeatas e aos confrontos com a polícia.
Paralelamente às crescentes ações de massa, a ideia de promover a luta armada ia ganhando corpo dentro de grupos da esquerda. Em 1967, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) estava enviando seus primeiros militantes para Araguaia, no então sul do Pará, para preparar uma guerrilha rural. Nessa época, começaram a ser praticados os primeiros assaltos a bancos e outras ações armadas, que tiveram seu auge entre 1969 e 1971. Ao longo desses anos, os militares liquidaram paulatinamente as organizações da guerrilha urbana. Já a guerrilha rural no Araguaia foi atacada pelo Exército e foi completamente derrotada em janeiro de 1975.
A volta das greves operárias em 1968, depois de tanta repressão e intervenção nos sindicatos, surpreendeu o governo. Eles obtiveram algumas vitórias, mas também foram alvo de uma repressão implacável. Foi efêmera a reanimação do movimento operário, que só voltou à cena em 1978, no ABC paulista.
O governo temia a convergência entre a rebelião do sistema político, com muitos parlamentares criticando abertamente o regime, o movimento estudantil e a Frente Ampla, grupo formado pelos ex-presidentes JK, Jango e por Carlos Lacerda. Os intelectuais e artistas estavam bastante mobilizados contra a censura e contra o autoritarismo. A sociedade, que quatro anos antes parecia festejar o golpe, agora estava se amotinando, gritando nas ruas “Abaixo a Ditadura”.
Em plena crise estudantil, em julho de 1968, o governo proibiu as manifestações públicas em todo o país e a tensão aumentou. Em outubro, a polícia prendeu em Ibiúna, no interior de São Paulo, mais de mil estudantes que participavam do congresso clandestino da UNE. Ao serem libertados, vários deles aderiram às organizações que estavam se enveredando pelo caminho da luta armada.
Sob a repressão, que se agravou ainda mais a partir do Ato Institucional Nº5 (AI-5) de dezembro de 1968, o movimento estudantil, privado de suas lideranças, se reorganizou cautelosamente e só voltou a se manifestar publicamente em 1977. Mas, até lá, grupos de oposição continuaram a existir e a se organizar, nas igrejas, nos bairros, nas fábricas, nos espaços culturais, nos campi universitários. A parte democrática da sociedade, a rigor, nunca esteve apática, mesmo durante a vigência do AI-5 e do Estado de terror.