No dia 30 de março de 1964, o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) advertiu para o perigo de golpe e convocou greve geral para se opor a essa possibilidade. O golpe veio no dia 1º de abril e a greve não aconteceu. Os golpistas fecharam o CGT, seus 17 dirigentes foram presos, torturados nos interrogatórios, e condenados a muitos anos de prisão.
A organização sindical foi fortemente desmantelada: 452 sindicatos ficaram sob intervenção estatal e a imprensa operária e sindical foi proibida. Foi implantado o arrocho salarial, política em que os salários não acompanham a inflação, diminuindo o poder de compra dos trabalhadores.
Somente quatro anos depois o movimento operário conseguiu apresentar uma reação. Em abril de 1968, 15 mil metalúrgicos de Contagem (MG) entraram em greve com reivindicações salariais, deixando clara a disposição da classe operária mineira e conseguiram negociar um abono de 10%.
No 1º de maio, na Praça da Sé, em São Paulo, trabalhadores apedrejaram o palanque onde estava o governador imposto pela ditadura, Abreu Sodré, e “pelegos” sindicais, isto é, dirigentes que não representavam a massa de trabalhadores, mas que eram impostos pelo governo para defender os interesses dos patrões.
Em julho do mesmo ano, teve início uma greve dos metalúrgicos de Osasco, organizada pela base, que teve adesão de muitos trabalhadores. Seria uma greve histórica, mas foi imediatamente sufocada pela repressão, que se recusou a negociar. Decretaram intervenção no Sindicato de Osasco, invadiram as fábricas e prenderam os grevistas. Foi efêmera a reanimação do movimento operário, que só iria voltar à cena após 1977, no ABC paulista.
A economia cresceu e o número de trabalhadores também. Entre 1960 e 1980 os empregados da indústria de transformação passaram de 2,9 milhões para 8,5 milhões, correspondendo a 20% da população economicamente ativa. Os metalúrgicos foram de 600 mil para 2,7 milhões, concentrados em grandes fábricas modernas, muitas delas estrangeiras, tendo como carro-chefe a indústria automobilística. A maior parte se concentrava no entorno de São Paulo, no ABC (Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano). Só uma empresa, a Volkswagen, chegou a ter 45 mil empregados.
Essa nova classe operária, formada em sua maioria por imigrantes vindos da zona rural, não tinha experiência sindical. A ditadura limitou drasticamente a militância nos sindicatos e a organização dos operários começou a se dar via Sociedades de Amigos de Bairro (SABs) e comunidades eclesiais de base (CEBs). Aos poucos se formaram oposições sindicais, atuando nos sindicatos dirigidos por “pelegos”.
Assim, as lutas reivindicativas aconteciam de forma localizada, ocorriam por fábricas, e em geral não chegavam à greve. Recorria-se à “operação tartaruga” – uma diminuição proposital no ritmo de trabalho – e a outros expedientes. Essas ações eram imediatamente reprimidas. Em 1972, a Ford de São Bernardo foi cercada pela PM para impedir uma paralisação do trabalho.
Em 1974, a oposição sindical de São Paulo foi duramente reprimida, com a prisão de 70 de seus militantes. No mesmo ano, os metalúrgicos de São Bernardo fizeram um congresso e denunciaram os elevados níveis de exploração do trabalho (alta rotatividade, aumento do ritmo e da jornada de trabalho e a elevada lucratividade das empresas) e reivindicaram liberdade sindical.
Um relatório do Banco Mundial de 1977 revelou que o governo tinha manipulado a taxa de inflação em 1973-74, o que tinha resultado numa perda salarial de 34%. A campanha pela reposição partiu dos metalúrgicos de São Bernardo, comandada por Luiz Inácio da Silva, o Lula, o presidente do sindicato desde 1975. Os trabalhadores não conseguiram a recuperação do salário, mas sua luta ganhou repercussão e estimulou o surgimento de novas lideranças em vários estados, além de projetar Lula no cenário nacional.