
Em 15 de março de 1955, o jornal Diário da Noite publicou uma foto de dois homens interagindo em uma rua, no centro de São Paulo. À primeira vista, a imagem se assemelha a um encontro corriqueiro, sem maior importância. Entretanto, o jornal noticiou como um “furo” ao afirmar que dois homossexuais se encontravam na chamada “esquina do pecado”.
Assim como os dois homens fotografados, antes mesmo do início da ditadura militar, a presença de outras pessoas que não se identificavam ou não se adequavam às normas e expectativas tradicionais de gênero e sexualidade foram notadas, vigiadas e perseguidas pela polícia e pela imprensa, sobretudo nos centros urbanos em expansão.
Este eixo mostra, como apontou o capítulo “Ditadura e homossexualidades”, do relatório final da Comissão Nacional da Verdade, que a discriminação e perseguição às pessoas dissidentes de gênero e sexualidade não se iniciaram com o golpe de Estado, em 31 de março de 1964. Nas décadas de 1950 e 1960, agentes do Estado apelaram para a moralidade vigente para justificar práticas que restringiam a existência pública das pessoas que escapavam às normas vigentes. Por outro lado, essas pessoas articularam estratégias e práticas de sociabilidade nas cidades, para se reunir e criar culturas próprias.






Saiba Mais


Imprensa homossexual
Criado por Agildo Guimarães, O Snob foi um jornal que circulou no Rio de Janeiro (RJ), entre 1963 e 1969. Nele, eram publicados textos sobre reuniões, encontros amorosos, concursos de travestis e práticas de encontros sexuais, sobretudo entre homens. Veja a edição nº 1 de O Snob, com uma breve apresentação do periódico e descrição de uma festa privada. Rio de Janeiro. 1963. Acervo Arquivo Edgard Leurenroth/Unicamp.