Durante a década de 1950, a indústria cultural brasileira sofria com diversos entraves que impediam a produção de filmes e, consequentemente, a criação de obras com grande qualidade técnica. Um pouco antes dessa época, a indústria cinematográfica paulista viveu uma pequena fase de ascensão, mas que foi incapaz de consolidar a sétima arte no Brasil. Dessa forma, jovens intelectuais e artistas passaram a discutir um novo rumo para o cinema nacional.
A primeira importante manifestação desse sentimento de mudança aconteceu em 1952, com a organização do 1º Congresso Paulista de Cinema Brasileiro. Nesse encontro, além de pensar em alternativas para a incipiência da arte cinematográfica, seus integrantes se mostraram preocupados em se distanciar do prestigiado modelo ficcional do cinema norte-americano. Seu grande interesse e inspiração estavam, principalmente, em dialogar com os elementos estéticos oferecidos pelo neorrealismo italiano.
A partir de então, seus objetivos centrais eram realizar um cinema de apelo popular, capaz de discutir os problemas e questões ligados à realidade nacional, e o uso de uma linguagem inspirada em traços da nossa própria cultura.
Em 1955, o diretor Nelson Pereira dos Santos exibiu Rio 40 Graus, o filme responsável pela inauguração do Cinema Novo, que oferecia uma narrativa simples, preocupada em mostrar personagens e cenários que pudessem criar um panorama da cidade que, na época, era a capital do país. Isto levou outros cineastas cariocas e também baianos a simpatizarem com essa nova proposta estético-temática para o cinema brasileiro. O filme chegou a ser proibido pela censura, sendo liberado apenas depois da posse de Juscelino Kubitschek. Esse filme sintetiza a busca por um cinema nacional-popular, que falasse do Brasil para os brasileiros, com uma temática ligada à realidade nacional.
Mas o cinema da década de 1950 ainda se mantinha fiel a uma narrativa clássica, contando histórias lineares, a partir de recursos de câmera convencionais. No início dos anos 1960, um novo grupo de jovens cineastas iria manter essa busca pelo “cinema brasileiro”, mediante formas de linguagem mais inovadoras.
Se o cinema nacional dos anos 1950 preferia narrar a vida dos pobres da cidade, dialogando com a estética dos melodramas e das chanchadas musicais da época, o Cinema Novo desviava suas lentes para o homem do campo. Isso porque, conforme a perspectiva política da época, acreditava-se que a Revolução Brasileira aconteceria no meio rural ou nas comunidades semirrurais.
O golpe militar de 1964 ocorreu num momento em que o cinema brasileiro vivia sua fase mais criativa e diversificada, conquistando um amplo reconhecimento no exterior. O movimento do Cinema Novo tinha assumido para si a tarefa de levar para as telas as utopias e contradições da realidade brasileira, com foco na realidade social, por meio de uma linguagem inovadora e ousada.
A “Revolução Brasileira” parecia iminente quando a democracia foi substituída pela ditadura. A partir de então o cinema, sobretudo os diretores ligados ao Cinema Novo e ao Cinema Marginal, tentou compreender a modernização brasileira, a violência política que se instalou, e o papel dos intelectuais e da classe média diante da nova realidade política.